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Campos e Partículas - A Nossa Visão Moderna do Universo

No texto passado falamos sobre simetrias nas leis da física. Nesse texto de hoje vamos tratar de uma leve introdução da relação entre partículas e campos do ponto de vista da Teoria Quântica de Campos (TQC). No próximo texto iremos relacionar os dois assuntos tratando da quebra espontânea de simetria e, nesse contexto, falaremos sobre dois mecanismo muito importantes, o de Goldstone e o de Higgs. Vou deixar os planos a curto prazo em formato de lista para que você possa acompanhar melhor:

1 – Simetrias
2 – Partículas e Campos
3 – Quebra Espontânea de Simetria.
4 – O que são Partículas Elementares?
5 – O que é Supersimetria?

Vamos ao que interessa.

No final do século XIX, o Lorde Kelvin¹ disse que o céu estava limpo, exceto por duas pequenas nuvens negras, se referindo a como estava a física da época. O problema é que essas duas pequenas nuvens negras eram nada mais do que a mecânica quântica e a teoria da relatividade. Em pouco tempo, essas duas nuvens negras cresceram e deram origem a uma enorme tempestade.

É justamente da junção de parte dessas nuvens que vamos falar aqui, mas não vou me focar em descrições de títulos, e sim dar explicações e depois atribuir títulos a elas.

Uma coisa que é comum de se ler por aí é sobre a incompatibilidade entre a mecânica quântica e a teoria relatividade. Mas isso não é totalmente verdade, existem vários pontos em que a mecânica quântica e a relatividade se encaixam muito bem e é disso que se trata a TQC². Desde a formulação de teorias modernas da física, os campos se fizeram presente, como na teoria do eletromagnetismo de Maxwell, por exemplo. Então veio Einstein, Minkowski, Lorentz, Poincaré e deram a física clássica uma nova abordagem, a abordagem relativística, que deu formas diferentes a nossa visão dos campos. A essa nova visão sobre os campos nós chamamos hoje de Teoria Clássica de Campos. Com a inserção da mecânica quântica nesse contexto, ou seja, com a quantização desses campos, obtivemos uma teoria bem abrangente e que mete o bedelho desde a cosmologia até a física da matéria condensada, que é a Teoria Quântica de Campos.



Mas qual a graça da TQC?

Essa teoria foi postulada pela primeira vez no final de 1920 e desenvolvida ao longo das décadas seguintes. E uma das principais coisas que a TQC fez, foi mudar nossa visão de mundo. Pois essa teoria nos fez ver um universo todo permeado por campos, que dão origem as partículas que formam nosso universo, colocando os campos em uma posição fundamental para compreendermos a natureza. Mas para ficar mais fácil nossa compreensão, para começar, vamos pensar apenas em elétrons.

Em todo o universo, há um campo chamado de “campo de elétrons”, que é um campo fermiônico que citamos no texto sobre Matéria e Energia. Um elétron propriamente dito não é um campo, mas sim uma vibração localizada em um campo. Na verdade, cada elétron no universo é uma vibração localizada em um único campo.

Os elétrons não são as únicas partículas que consistem em vibrações localizadas de um campo, na verdade todas as partículas são. Por exemplo, há um campo de fótons, um campo de quark up, um campo de glúons, um campo de múon, ou seja, há um campo para cada partícula conhecida. E, para todos eles, uma partícula é apenas uma vibração localizada do campo.

Esse é o caso também do bóson de Higgs. O campo de Higgs interage com as partículas fornecendo a sua massa, mas é difícil observar este campo diretamente. Por esse motivo temos que fornecer energia para esse campo, através de colisões de partículas, para lhe causar vibrações que são detectadas como partículas, no caso, o bóson de Higgs. Então, observar uma partícula em acelerador, por exemplo, é nada mais do criar e observar vibrações em determinados campos.

Essa idéia dá uma visão completamente diferente de como o mundo subatômico funciona. Pois existe uma grande variedade de diferentes campos permeando todos os lugares e o que nós pensamos que é uma partícula, na realidade é simplesmente uma vibração do campo ao qual ela é associada.

Isto tem consequências importantes sobre a forma como pensamos sobre como as partículas interagem. Por exemplo, considere um processo simples, onde dois elétrons são disparados um contra o outro e são espalhados. Na visão semi-clássica de dispersão, um elétron emite um fóton e depois recua. O fóton viaja para o outro elétron, que o “recebe” e também recua. Isto é como ter duas pessoas em cima de dois skates e um deles joga uma bola para o outro: o skate da pessoa que arremessa a bola se move para trás em resposta à massa da bola, assim como o skate da pessoa que apanha a bola.


Na TQC, uma vibração no campo do elétron provoca uma vibração no campo dos fótons. A vibração no campo do fóton transporta energia e momento para outra vibração no campo do elétron e é absorvida.

No famoso processo em que um fóton se converte em um elétron e um anti-elétron, as vibrações do campo dos fótons são transferidas para o campo do elétron e dois conjuntos de vibrações são configurados – um dos quais está de acordo com a vibração do elétron e o outro de acordo com a vibração do anti-elétron³.

Essa abordagem de campos e vibrações explica como o universo funciona em um nível profundo e fundamental. Estes campos abrangem todo o espaço. Alguns campos podem interagir com outros campos, enquanto que outros podem parecer inertes. O campo fóton pode interagir com os campos de partículas carregadas, mas não pode interagir com os campos dos glúons ou dos neutrinos. Por outro lado, um fóton pode interagir indiretamente com o campo do glúon, em primeiro lugar, fazendo vibrações nos quarks que, em seguida, fazem os glúons vibrar.

Campos quânticos são realmente uma forma bem diferente de ver o universo. Tudo, e eu quero dizer TUDO mesmo, é apenas uma consequência da vibração de muitos campos infinitamente grandes. O universo inteiro é feito por esses campos e essa coisa dá um grande nó na nossa cabeça.


No próximo texto, nós vamos tratar de como essas partículas “aparecem” na quebra espontânea de simetria nesse campos. Iremos falar um pouco sobre o mecanismo de Goldstone, em que partículas perdem sua massa e o mecanismo de Higgs, no qual partículas ganham massa. Caso você queira acompanhar bem o próximo texto aconselho que você dê uma estudada em “energia potencial” pode ser por material de ensino médio, ou por esse texto.


1 - Em The London, Edinburgh and Dublin Philosophical Magazine and Journal of Science, Series 6, volume 2, page 1 (1901) "Nineteenth-Century Clouds over the Dynamical Theory of Heat and Light."

2 - Note que o ponto problemático da junção entre Mecânica Quântica e Relatividade se dá no campo gravitacional, quando tentamos quantizar esse campos surgem infinitos na nossa teoria que estragam a nossa brincadeira. 

3 - É importante frisar que o campo do elétron é o mesmo do anti-elétron.


Veja mais:

- Lectures on Physics - Feynman (o física em 12 lições também serve)

Matéria e Energia - Diferenças que você precisa saber!

Você leigo, que adora ler texto sobre física na internet, sempre se depara com a relação entre matéria e energia, e recebe definições diferentes sobre como elas se relacionam. Por esse motivo resolvi escrever esse texto, que será enorme e por isso vou dividir em 3 posts abordando 2 tópicos em cada texto. A idéia é tentar dar uma definição mais precisa sobre a relação entre matéria e energia para que você pare de receber conceitos errados e possa ter um conceito mais formal para carregá-lo para a vida.
Eu vou me basear aqui no excelente post do Professor Matt Strassler que vou deixar nas referências.

Os tópicos que irei abordar são:

1 – Matéria e Energia realmente são a mesma coisa?
2 – Aniquilação de partículas não é matéria se transformando em energia.


Mãos a obra:

1 – Matéria e Energia realmente são a mesma coisa?

Uma causa dos grandes problemas com a definição da relação entre matéria e energia é que com o tempo de estudo na física você vai aprendendo a separá-las em sua cabeça e elas se tornam (e são) coisas realmente diferentes, tanto experimentalmente quanto matematicamente. Por esse motivo não perdemos muito nosso tempo tentando explicar as diferenças e similaridades em livros e textos, aí causamos isso, um monte de gente que não sabe distinguir as duas coisas, já que os textos de divulgação fazem questão de usar definições ambíguas e que mudam de texto para texto.

O mais comum de se ler por aí é que matéria e energia são a mesma coisa e isso não é verdade – É José, o documentário mentiu pra você. Matéria e energia nem sequer estão na mesma categoria, mas vamos definir as coisas com mais calma.

Primeiramente definiremos o que é matéria e fazer isso é bem complicado. Vamos começar com uma definição simples que você não terá problemas em compreender:

- A forma mais automática de se pensar em matéria é ela como sendo as coisas a nossa volta, como cadeiras, mesas, a água, o ar, a terra. Podemos estender essa definição para os átomos, e por sua vez estender ainda mais para partículas ainda menores como elétrons, múons, taus, três tipos de neutrinos, seis tipos de quarks, ou seja, todos os tipos de partículas que não são bósons – que não são mediadoras de força.



Mas quero deixar bem claro que até mesmo essa definição acima é um tanto contraditória quando consideramos a matéria escura, por exemplo, mas isso é assunto para um tópico mais adiante.

Embora a energia seja algo bem definido fisicamente e matematicamente, no dicionário ela possui mais significados que a palavra “matéria”, ou seja, temos um problema lingüístico para distinguir precisamente o que é a energia, mas vamos tentar.

Parte do que torna complicado para descrever a energia é que ela pode tomar várias formas, das quais nem todas são conceitualmente simples. Aqui estão as quatro mais comumente encontradas:

  1. O físico R.P. Feynman possuía uma forma interessante de se definir energia, mais ainda sem ser menos abstrata. Ele dizia que energia é uma quantidade que sempre se conserva, não importa o que você faça com um corpo ou um sistema de corpos, sempre conservará essa quantidade. Mesmo em sistemas com dissipação de energia podemos encontrar a quantidade perdida pelo corpo em forma de calor, som, vibração, etc.
  2. A energia pode ser “confinada” na massa de um objeto, que é o famoso E = mc², e também chamado de "energia de repouso", uma vez que é a energia que um objeto tem quando está parado.
  3. A energia está associada com o movimento de um objeto, cujo nome técnico é "energia cinética". Este tipo de energia é bastante intuitiva e nos leva a notar que os objetos mais rápidos têm mais energia do que os mais lentos e juntando com a primeira definição, um objeto de maior massa tem mais energia cinética do que um mais leve, se os dois estiverem viajando na mesma velocidade.
  4. A energia pode ser armazenada nas relações entre os objetos (energia potencial). Ele pode ser armazenado em uma mola esticada, ou na água atrás de uma represa, ou na interação gravitacional da Terra com o Sol, ou na relação entre átomos numa molécula, ou quando simplesmente levantamos uma pedra com nossas mãos. É aquele conceito simples de energia potencial que aprendemos no ensino médio.

As quatro definições acima estão longe de serem simples de se entender assim de primeira, então vá discutir com seus amigos e ler mais textos.

Mas vamos resumir tudo isso de forma BEM simplória dizendo que energia não é por si só um objeto. Por exemplo, Um átomo contém energia, mas ele não é energia propriamente. E você precisa saber que partículas se movendo por conta própria através do espaço podem ter dois tipos de energia: energia relacionada à massa e energia relacionada ao movimento.

2 – Aniquilação de partículas não é matéria se transformando em energia.

(Não é a minha intenção explicar aqui o processo de aniquilação entre partículas e suas antipartículas, mas sim analisar seus produtos. Talvez no futuro eu possa escrever ou traduzir algo sobre isso)

Talvez aqueles que estejam a pouco tempo pesquisando e lendo materiais de divulgação sobre física não tenham tido contato com o assunto. Então vou explicar com mais calma.

Quando uma partícula e sua antipartícula se encontram elas se aniquilam e, segundo muitos textos e alguns documentários por aí, o resultado dessa colisão é nada mais que simples e “pura” energia. Mas infelizmente, a afirmação não é verdadeira.


Na maior parte dos textos que falam sobre isso, a “energia pura” é referida aos fótons provindos da aniquilação entre elétrons e pósitrons. Mas o fóton também não é energia, ele contém energia! Por exemplo, minha casa possui a cor branca, mas ela não é a cor branca, ou seja, a cor branca é apenas uma propriedade da minha casa.

É totalmente corriqueiro encontrar por aí leigos que acreditam que fótons são de fato “energia pura”, mas na verdade eles são partículas, como qualquer outra provinda de oscilações em um campo correspondente¹, da mesma forma que um elétron², por exemplo. Quando um elétron e um anti-elétron (pósitron) se aniquilam, a energia dos fótons produzidos é igual à massa do par elétron-pósitron, já que a energia é conservada.



Mas podemos considerar o aniquilamento entre outras partículas, por exemplo. Quando um múon se aniquila com o antimúon, existe a mesma probabilidade de resultar em um par de fótons ou em um par elétron-pósitron. Ou seja, temos matéria se aniquilando em matéria e não em energia pura. O aniquilamento do par múon/antimuon em dois fótons ou no par elétron/pósitron representa exatamente o mesmo processo, então não precisamos fazer distinções que não existem!

Com isso acredito que tenha ficado claro que não é verdade que matéria e a antimatéria se aniquilam formando energia propriamente dita, elas se aniquilam formando outras partículas que contém energia. Ok?!


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Espero que tenham gostado da nossa primeira parte. À medida que eu for encontrando tempo vou escrevendo mais. Lembrando que estou me baseando nos textos do professor Matt Stressler, então dê uma checada no blog dele que vocês irão achar bastante coisa legal.


1- A Teoria Quântica Campos, que é o framework de onde saíram algumas das teorias mais bem sucedidas que temos atualmente, trata as partículas como sendo oscilações em diferentes campos. Um elétron é uma oscilação em um campo fermiônico com determinadas propriedades. Já o fóton é um oscilação em um determinado campos vetorial, no caso, o campo elétrico.

2- Acho importante fazer aqui um adendo. Note que falamos que fótons são partículas assim como elétrons, mas no início definimos que elétron é matéria propriamente dita e fótons (que é um bóson) não. O que acontece é que a definição de "partícula" é mais abrangente do que a definição de matéria. Em "partículas elementares" temos duas classes que são os Férmions e os Bóson, os férmions são matéria propriamente dita, da maneira que de definimos. Por sua vez, bóson são partículas mediadoras de força e estão fora da nossa definição de matéria.


*E uma dica final dessa seção: É corriqueiro até mesmo professores passarem uma visão de que a energia é quase um substância fluída que passa de um corpo para outro, mas isso não é verdade, energia não é uma substância e nem é trocada de forma continua entre dois corpos, mas deixemos isso para um próximo texto 
quarta-feira, 24 de julho de 2013
Posted by Thiago V. M. Guimarães

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