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10 argumentos que você não deve usar em uma discussão sobre misticismo quântico

Estava aqui moscando, olhando para o Maple plotar umas soluções numéricas para uns problemas em TQC que eu estou resolvendo, como isso está demorando muito e basicamente o meu notebook fica tão lerdo que trava até o navegador da internet (maldito Windows!), resolvi escrever esse texto como apêndice para o texto anterior sobre cura quântica, pois pretendo pôr uma pedra em cima disso.
Antes de tudo, esse texto tem a intenção de valer para qualquer assunto pseudocientífico que envolva física, uma vez que ele será bem genérico. Minha intenção é dar dicas de “como não discutir com um físico sobre misticismo quântico”, então já aviso que esse texto é para ser assim mesmo, sarcástico e nem um pouco informativo. Estou baseando as linhas a baixo nos "argumentos" que já ouvi e li de pessoas que defendem o assunto, dessa forma se você estiver em uma discussão relativa ao tema utilize esse texto para que você não perca seu precioso tempo tentando discutir com os mesmo argumentos de sempre. Mãos a obra:




10 + 1 Argumentos que você não deve usar ao discutir assuntos sem provas científicas com físicos:

1 – Apelo à autoridade

Um dos argumentos mais utilizados é uma falácia clássica do apelo à autoridade.

“Amit Goswami é (SIC) físico de Havard” 
 “Fulano de Tal, diretor do departamento de física de Cambridge, acredita no Capra” 
“Laércio Fonseca tem mestrado na UNICAMP” 
 “O renomado físico do departamento de mecânica quântica de Skirym faz meditação transcendental”
 “Walter White tomou homeopatia contra o câncer”, 
 “Einstein disse…”, “Heisenberg falou…”, "Homer Simpson provou…”
....clap, clap.

Se você está discutindo com um físico/estudante/ser humano normal e você pensa em usar um argumento parecido, semelhante ou que lembre alguma dessas frases acima, nem perca seu tempo. O fato de qualquer pessoa acreditar, ter falado ou “achar” algo não significa absolutamente NADA, não importando o quão graduada seja essa pessoa, pois existe um abismo entre opinião pessoal e uma evidência científica. A opinião não significa nada além de uma interpretação baseada unicamente nas experiências de vida e preconceitos de uma pessoa, não necessariamente passando por qualquer analise critica, o que é bem diferente de uma evidência científica. Então não adianta colar frases de Einstein ou dizer que fulano acredita nisso, se não existem evidências a respeito à opinião pessoal de Einstein é tão relevante quanto à do seu padeiro.
Ah, pra falar a verdade seria legal se você não usasse esse argumento nunca, não importa com quem ou o que você discuta, pois sem dúvida essa é uma das falácias mais babacas que existem.

2 – A ciência provou.

Ahhh… esse é desesperador, quando eu leio isso tenho vontade de jogar meu computador pela janela. Antes de dizer a “ciência provou”, que por si só já não é epistemologicamente muito correto, você deve saber quais foram os cientistas envolvidos nessa “prova”, onde o trabalho foi publicado, quantas vezes ele foi citado, etc. Sair dizendo que a “ciência provou” algo é simplesmente um argumento estúpido e vazio. Sem você mostrar como isso foi "provado" é impossível discutir sobre o assunto, então, por favor, encontre as publicações que "provem" o que você está dizendo, mas não vá pegar elas em livros como “Alma Quântica”, “Xacra Quântico”, “Saúde Quântica da Madame Satan” e muito menos em documentários. Documentários são simplesmente a mais baixa categoria informativa sobre descobertas científicas¹. Então encontre publicações científicas de verdade, se você não sabe como fazer isso é só assinar os feeds desse blog que em breve vou escrever um texto sobre como pesquisar por artigos.

3 – Apelo a Ignorância.

Universo é muito complexo, nossa ciência é muito primitiva, portanto, tudo é possível e não sabemos nada.

Novamente essa é uma falácia muito usada para defender qualquer tipo de crença. Acho que sempre que posto algo relacionado à Mecânica Quântica esse é o ponto que mais marcam em cima. Mas serei razoável, pois realmente a mídia adora destacar que sabemos pouco do universo e que por isso tudo é possível.

a)– O fato de não sabermos nada sobre um assunto não é prova de que você está certo, é no máximo um motivo para não descartarmos o que você está alegando.

b) – Antes de você afirmar que não sabemos nada, pare um pouco e reflita. O que você sabe sobre a forma que a ciência agrega conhecimento, como ela lida e aplica e ele? Olhe para esse monte de tecnologia a sua volta, o que possibilitou isso tudo? Para construir essas tecnologias nos precisamos entender “corretamente” como o universo funciona? Para mandar corretamente nossas sondas para Marte, nossas teorias sobre gravitação têm que estar corretas? Para fazer seu Iphone, Tablet, notebook, as leis da quântica que descobrimos podem estar erradas?

Eu particularmente não gosto de atrelar a tecnologia como justificativa para a ciência, mas acredito que no momento esse exemplo seja o mais palpável. Para termos toda essa tecnologia precisamos que nossa ciência esteja, com boa aproximação, correta. Nós compreendemos bem muitas leis do nosso universo, muitas forças, muitas interações, muitas partículas. Você pode ver isso facilmente, nós prevemos eclipses, máximos solares, prevemos a existência de planetas e depois descobrimos de fato, conseguimos mandar sondas para os mais diversos lugares e com grande precisão. Conseguimos fazer tratamentos médicos baseados na física moderna e mais uma infinidade de coisas que não seriam possíveis se nossas teorias estivessem erradas ou se nós não soubéssemos nada sobre o universo. São as mesmas teorias que nos permitem levar alta tecnologia a casa de vocês que também nos permitem, por exemplo, estudar assuntos mais abstratos como o bóson de higgs, teoria do big bang, matéria escura. Felizmente existem muitos e muitos mistérios no universo a serem descoberto ainda, mas nós estamos trabalhando nisso e sabemos como prosseguir, não somos um bando de macacos em um laboratório fazendo coisas aleatórias para saber seus resultados.

Por favor, não use nossa ignorância para tentar corroborar assuntos que nem sequer a ciência trata. Nossa ignorância existe e é muito grande, porém existem muitas coisas que sabemos e são justamente essas coisas que sabemos que nos permite, com prudência, descartar hipóteses absurdas.



4 – Humanização da Ciência.

Essa é até um pouco nova pra mim, mas me deparei com um argumento desse tipo há pouco tempo aqui no blog.

“Considerar temas como “a mente colapsa a função de onda” são importantes porque humanizam a ciência e assim a gente não vai sair por aí jogando bombas nas cabeças uns dos outros.”

Ok, pra mim não faz sentido, mas se pensa em usar alguma coisa nessa linha argumentativa mude de idéia. A ciência por si só já é uma coisa humana e ela não vai deixar de ser menos humana por não aceitar hipóteses sem evidência alguma. O mau uso da ciência em nada tem a ver com a forma que procedemos em aceitar alguma hipótese, têm a ver com ética profissional tanto de cientista, engenheiros, políticos, etc.
Eu enquadraria facilmente esse tipo de argumento em uma falácia “non sequitur”, pois não faz sentido associar o mau uso da ciência com uma suposta “não humanização” da mesma que nem ao menos existe. Afirmar uma desumanização da ciência é não ter conhecimento algum sobre como ela funciona, dê uma lida nesse breve texto:  A Ciência Exata é Social.

5 – Nós não conhecemos nada da mecânica quântica e ela permite tudo.

Esse argumento é muito semelhante ao terceiro, mas ele tem um adicional. Geralmente as pessoas acham que a física quântica é naturalmente sem leis, ou que apenas a estatística a rege. Os argumentos mais comuns nessa linha de pensamento são:

“Ninguém compreende a mecânica quântica de verdade, pois as leis são muito bizarras”
“Feynman falou que se você acha que entendeu mecânica quântica é porque você não entendeu nada”
“A mecânica quântica é uma terra sem lei.”
“A mecânica quântica dá margem a tudo”

Esses argumentos não procedem, e o segundo ainda vem com um adicional de apelo a autoridade. A mecânica quântica é uma teoria muito bonita que não funciona pra tudo, tem leis bem definidas que nós conhecemos muito bem, mas claro que existem alguns paradoxos ou efeitos que não conseguimos ainda explicar com perfeição, como o emaranhamento quântico, por exemplo. Em alguns casos nós até conhecemos bem as leis e sabemos como trabalhar com elas, mas não entendemos direito o porquê delas existirem exatamente.  Ainda sim nada disso dá margem a interpretações místicas ou embasa afirmações de que a Mecânica Quântica é incompreendida, ou que tudo pode acontece.

A quântica menos ainda dá margem a “tudo”, na verdade ela até restringe algumas coisas bem mais do que a física clássica. Quantizar significa atribuir valores discretos a algo, e por valores discretos compreenda como “não contínuos”. Assim se na mecânica clássica uma partícula pode ter momento angular (a,b,c,d), quanticamente pode ser que a partícula só possa ter momento (a,b), por exemplo. De forma mais palpável, imagine que a física clássica seja nossas leis de trânsito², por lei você sabe que em determinados lugares você deve atravessar sobre a faixa de pedestre apenas. Uma versão quântica das nossas leis de trânsito poderia dizer que você só pode atravessar na faixa de pedestre e pisando apenas sobre as faixas brancas. Dessa forma a nossa “lei quântica de transito” restringiu ainda mais as possibilidades de atravessar a rua, agora além de ser apenas na faixa de pedestre você só pode pisar na faixa branca. Da mesma forma acontece na quântica, muitas vezes ela é mais limitante do que a própria mecânica clássica.

6 – Opinião pessoal.

Muitas vezes quando estamos discutindo com alguém sempre caímos em um impasse legal, de um lado nós defendendo um ponto de vista que é um consenso na ciência e do outro a pessoa defendendo o que ela acha que é verdade. Aí surgem os argumentos:

“Ah, mas essa é a minha opinião”
“Eu acho que é assim”

Serei categórico e mal educado: Foda-se sua opinião! Se você não sabe nada de física, nada de ciência e quer discutir um assunto tão complexo quanto esse, a sua opinião simplesmente não tem peso algum. Se você se matou de estudar mecânica quântica e descobriu que o pensamento cura quanticamente as pessoas, então pare de perder seu tempo com discussões, escreva um paper e o submeta a uma revista científica que possua revisão por pares, que tenha um bom fator de impacto, espere ser citado muitas vezes e que comprovem ou refutem o que você está alegando.

7 – Tipo diferente de ciência

Esse é ótimo e vem em várias versões. Tem a versão:

“Colchão quântico é uma ciência nova desconhecida”
E também a famosa:
“Ah, crochê quântico é um tipo de ciência milenar chinesa/indiana que nasceu no Tibet” (que?)
É até complicado tentar começar a falar sobre isso, pois é muito absurdo. Tipo, os caras pegam todo nosso jargão científico, falam de experimentos que fizemos, misturam isso em uma salada com misticismo oriental e vem falar que é outro tipo de ciência. Gostaria muito de saber que tipo de ciência é essa que não produz nada além de livros de auto-ajuda e quinquilharias quânticas que você pode comprar por um preço absurdo no Ebay.

Resumindo, um tipo misterioso de ciência oriental que não segue os mesmo métodos da ciência ocidental se apossa dos nossos jargões, aplicam em outro contexto que não tem relação nenhuma e a coisa ainda está certa?! É tipo como recortar a peça de outro cabeça para fazer ela se encaixar no seu?! Vou aproveitar para inventar um tipo diferente de misticismo que considera isso tudo um embuste!

8 – A Ciência não é dona da quântica nem da ciência.

Esse me faz chorar de rir:

“A Ciência não é dona da quântica”
“A Ciência não é dona da Ciência”

Que? Como assim? Alguém poderia explicar isso direito? A ciência constrói a teoria quântica e ela não é “autoridade” no assunto? Se um grupo de cientistas provarem algo e um monge lá do Tibet baseado em sua filosofia de vida disser que está errado, ou se o grande mestre Samael Aun Weor, em seu veículo astral, for até o Sol e os habitantes de lá disserem a ele que os cientistas estão errados então nós teremos que levar isso em consideração? é isso?

Esse argumento é altamente estúpido, pense bem antes de usar ele.

9 – Argumento da paralisia mental filosófica.

Esse é péssimo por inúmeros motivos. O principal deles é que uma conversa com uma pessoa que usa esse tipo de argumento simplesmente não chega a lugar nenhum. Pois não importa o que você diga, essa pessoa nunca vai mudar de ideia e você sempre será o cartesiano positivista da história. Então argumentos do tipo:

“Ah, mas a dialética….”, “Filosoficamente tudo pode existir”, “defina definir”, “Você está com um pensamento muito atomista"

Aqui a minha dica vai para o físico/estudante que está na discussão; não perca seu tempo, vá estudar que você ganha mais.

10 – A evidência anedótica e o placebo

Um clássico que deve ter nascido com a humanidade. Em um belo momento da discussão a pessoa resolve usar ela própria como prova:

“porque eu senti, então existe”
“porque uma vez um ET quântico massageou minhas costas”
“Porque a cura quântica me curou”
Esses argumentos são clichês a máxima potência e não podem simplesmente ser levados em consideração, pois a forma que interpretamos experiências pessoais está diretamente relacionada há muitos fatores que ponderamos com extrema dificuldade. Duas pessoas que passam pelas mesmas experiências de vida nunca possuem exatamente os mesmo pontos de vistas e interpretações. Outro problema são os diversos efeitos que nosso psicológico causa na nossa percepção de mundo, mais intrigante ainda são efeitos que podem acometer até grupos inteiros de pessoas, como a histeria coletiva. Por si só, esses efeitos psicológicos e sociopsicologico já são suficientes para enfraquecer esse tipo de argumento, fazendo que ele  caia no problema do ponto do vista que já falamos. Nem vou tocar no ponto de que você pode ter algum tipo de esquizofrenia ou outro transtorno social/neurológico que dificulta um julgamento mais conciso e lúcido de suas experiências.  

Se você foi curado ou não pela cura quântica, vodu relativístico ou qualquer outra dessas coisas, simplesmente é impossível dizer, pois não podemos distinguir se foi efeito placebo ou não. A forma mais segura de verificar se realmente a cura quântica funciona é fazendo testes sérios com vários grupos, comparando placebos controles, etc. Então não adianta você falar o quão maravilhosa é a cura quântica, o ativismo quântico, ou qualquer coisa assim baseado apenas em sua vida, portanto não use esse argumento.

11 – Comparação com teorias físicas ou.... "É só uma teoria"

De brinde, você ganha essa assustadora falácia. Ela funciona mais ou menos assim:

“A teoria do Big Bang também era absurdo”
“A mecânica quântica parecia pseudociência”
“A teoria das cordas….”
"É só uma teoria"
Esse tipo de argumento geralmente me faz encerrar a conversa na hora, pois demonstra o total desconhecimento da pessoa de como a ciência é feita. Todas essas teorias vieram de bases solidas e de interpretações científicas e matemáticas de outras teorias bem sucedidas que já tínhamos, não foi algo tirado do chapéu ou misturado com misticismo oriental. Esse argumento é bullshit total, evite isso!

Eu escrevi anteriormente sobre o "É só uma teoria", então não vou comentar aqui, mas deixarei o texto: NÃO É "Só" Uma Teoria!


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Podemos resumir tudo que foi dito acima com “aprenda a discutir e a julgar racionalmente as informações, evitando ao extremo usar suas paixões”. Obviamente que esse assunto deve sim ser discutido, mas se estamos falando de ciência então devemos fazer isso de forma séria e responsável, sempre dando respaldando as nossas afirmações.

E para me despedir, gostaria de dizer que agora vai demorar um pouquinho para nosso próximo texto, mas prometo que ele será no máximo em novembro e sobre o tema "vácuo quântico".

Até breve.




1 - Documentários cumprem sim sua função de divulgação científica, o que é bem diferente da função de um periódico. Então note essa leve diferença no que falei.
2 - É, acho que acabei de criar a legislação quântica de trânsito, se alguma editora tiver interesse podemos publicar algum livro de auto-ajuda ensinando as pessoas a serem felizes quando estão dirigindo usando as leis quânticas de trânsito.

A Cura Quântica Possui Respaldo Científico ?

Como eu já disse nesse texto aqui, O Gato Zumbi de Schrödinger e o Colapso da Função de Onda, eu ODEIO escrever sobre mecânica quântica porque eu sempre tenho dor de cabeça com “místicos quânticos”. Eu descumpri minha promessa pessoal escrevendo sobre o gato de Schrödinger e agora estou descumprindo mais uma vez, porém de forma ainda mais grosseira. Hoje vou falar sobre Cura Quântica, esse tema é bem controverso e perigoso por dois motivos; primeiro que rola uma grana muito alta em cima disso, segundo que as pessoas defendem o assunto como se fosse religião e time de futebol, então já vou adiantando que não vou aceitar aquele “blablabla quântico”, isso aqui não é uma democracia, é meu blog e não darei espaço para esse tipo de coisa.


Vamos ao assunto. Há muito tempo que discuto sobre ciência e pseudociência, e esse assunto me desgastou tanto que eu resolvi colocar ele dentro de uma capsula de chumbo coberta com concreto e jogar no fundo da Fossa das Marianas. Porém essa semana a coisa ficou feia. Tudo começou com essa notícia da Folha: “Feira de medicina quântica tem desde 'essência de golfinhos' até água 'carinhosa'”, logo depois me deparo com isso nos meus feeds do facebook: “Medalhão Quântico - Cromado - Com Vídeo Teste De Qualidade”, aí eu não aguentei e resolvi escrever esse texto, não porque eu sou um físico dodoizinho, butthurt, NÃO! (tá, talvez eu seja um pouco), mas sim porque um enorme problema surge quando começam a usar um ramo sério da ciência para vender técnicas de curandeirismo e objetos “quânticos” que tratam desde mal olhado até ebola.

Como vocês que acompanham esse blog sabem, eu sou meio Jack Estripador, gosto de ir por partes para organizar o conteúdo. Então vamos começar olhando um pouco para o passado.

No século XIX, o eletromagnetismo estava em alta, havia muita discussão e dúvida acerca das propriedades eletromagnéticas da matéria, de onde elas vinham, porque exatamente existiam, além da concepção de éter muito presente na ciência desse período. Mais ou menos na mesma época dos trabalhos de Maxwell surgiu o espiritismo na Europa (ok, não me crucifique se você for espírita, só estou tratando de história), que por sua vez tinha a postura peculiar de querer se apoiar na ciência e com isso se apossou de alguns termos científicos, como o éter e o eletromagnetismo, que estava começando a ser entendido, mas era o grande mistério da época assim como foi com a quântica há pouco tempo atrás.

Com o caminhar da ciência, o eletromagnetismo foi desmistificado e ficou sem graça, a hipótese do éter foi derrubada no começo do século XX e na mesma época nos deparamos com um novo mistério: a Mecânica Quântica (MQ). Essa por sua vez era ainda melhor que o eletromagnetismo para se assimilar com espiritualidade, pois era mais difícil de entender e o adjetivo “Quântica” dava um ar de modernidade, complexidade e de "científico" ao assunto.

Por volta da década de 1970, o físico Frijot Capra, publicou o livro "O Tao da Física", que fez um paralelo entre a física moderna e conhecimentos orientais. Quando nossos queridos amigos místicos se depararam com isso logo abraçaram a ideia e passaram a implementá-la na forma de ver o mundo. Tivemos um surto de seitas quânticas, objetos quânticos, livros quânticos, chegando a absurdos como “direito quântico”, “sexo quântico”, “Marketing Quântico”, “Dieta Quântica” e “-insira-uma-palavra-aqui- Quântico”. A vantagem de se juntar o “Quântico” como adjetivo a qualquer coisa é que quase ninguém consegue contestar por falta de conhecimento, além de ser mais encantador aos olhos dos leigos.

Tudo muito bem, tudo muito bom. Uma grande quantidade de físicos resolveu ganhar dinheiro e deixar de pesquisar para começar a vender livros de autoajuda. Surgiram filmes legais (SIC), como o “Quem Somos Nós” e “O Segredo”, mas agora o que temos que nos perguntar é: Sendo a quântica fruto da nossa ciência moderna, até onde essas “coisas” Quânticas são de fato ciência? Obviamente que a resposta é nada trivial, pois é quase impossível traçar uma linha clara entre ciência e pseudociência. Então vamos nos focar no que possui embasamento em pesquisas científicas séries.

Por pesquisa científica entenda que o que estamos procurando são publicações sérias em periódicos revisados por pares e de qualidade. Nós que trabalhamos na área temos acesso à uma plataforma de pesquisa de periódicos chamada de Web of Knowledge, lá estão as publicações do mundo inteiro, basicamente em todas as áreas da ciência. Resolvi fazer uma busca por palavras-chave associadas ao misticismo quântico, abaixo você pode ver os resultados:

Vou fazer questão de explicar direitinho o que eu fiz e comentar esses "artigos". Primeiramente eu fiz pesquisa pelas palavras-chave “Quantum Healing” e “Quantum Health”.

Primeira Busca – Quantum Health:

Artigos encontrados:


The Body Quantum, The New Physics of Body,  Mind and Health

O Autor é: SCHMECK, HM. ( Sim, só um autor!)
Foi publicado no New York Times e não em um periódico.
Não teve nenhuma citação¹ e usou apenas UMA fonte.
Isso nem pode ser considerado um artigo, mas sim um texto!

Quantum wellness: A practical and spiritual guide to health and happiness

Novamente só tem um autor. Foi publicado na “LIBRARY JOURNAL”. Nenhuma citação, usou só uma fonte e, assim como o anterior, não tem um resumo e nem o texto completo em pdf para sabermos do que se trata. Isso também não pode ser considerado um artigo, muito menos ciência!

The Twilight Zone: a paradigm shift or a quantum leap for mental health nurses working in Youth Early Psychosis?

O mantra de sempre: Um autor, zero citações, blablablabla... Ah, o periódico que foi publicado tem fator de impacto² 1,6, para título de comparação a Nature possui fator de impacto maior que 30. 

Na nossa primeira busca obtivemos apenas três textos que estão LONGE de ser artigos e mais longe ainda de serem pesquisas científicas. Os textos da imagem que não estão descritos aqui é por que não tem relação com cura quântica.


Segunda Busca – Quantum Healing;

Aqui tivemos resultados mais interessantes:


Theoretical Approaches on the Faith Element of Healing Under Traditional Medicine Psychosomatic Medicine, Placebo Effect, Quantum Healing

Novamente um autor, zero citações, a publicação foi feita em um jornal especializado em Cultura. Mas aqui tem resumo ao menos. Do que dá para entender parece que o autor enquadra a cura quântica em efeito placebo. Mas infelizmente não dá para concluir nada, pois o “artigo” não está disponível na integra.

Consciousness and nonlocality (Reprinted from Quantum Integral Medicine: Towards a New Science of Healing& Human Potential, 2005).

Finalmente um “artigo” com uma citação. Apenas um autor e a publicação foi feita na “ALTERNATIVE THERAPIES IN HEALTH AND MEDICINE”, que possui fator de impacto 1,77. Infelizmente não tem nem resumo nem “artigo” completo :(

Quantum transformation in trauma and treatment: Traversing the crisis of healing change

Aqui o nosso recordista de citações: 5, incríveis 5 citações em 7 anos de publicação. Novamente ele só tem um autor, foi publicado na JOURNAL OF CLINICAL PSYCHOLOGY que tem fator de impacto 1,66.

O resumo fala sobre uma suposta técnica, que NUNCA foi testada e por isso é chamada apenas de “ideia”. Como era de se esperar, tem maluquices quânticas como essa “particularly when occurring in quantum leaps, evokes, and illustrate the phenomenology of cascading transformations. They illustrate how the therapist's emotional engagement and attachment orientation”...  (cadê o sentido disso?)

Randomized Expectancy-Enhanced Placebo-Controlled Trial of the Impact of Quantumbioenergetic Distant Healing and Paranormal Belief on Mood Distubance: A Pilot Study.

Até agora, essa é a única publicação com mais de um autor. Novamente tem zero citações e foi publicada no EXPLORE: The Journal of Science and Healing que por incrível que pareça pertence a Elsevier. Eu consegui o paper e logo abaixo tem um print dele (tente acessá-lo por aqui). Analisando o paper, vê-se que de fato se parece mais com uma pesquisa científica do que os outros, nota-se que ele possui método definido, análise, resultados... tem basicamente tudo!

Os autores são?

- Adan J. Rock – Trabalha com cognição e ciências sociais na University of New England, na Austrália
- Fiona E. Mermezel – Trabalha na escola de medicina na University of Melbourne, Austrália também
- Lance Storm – Trabalha na escola de Psicologia da University of Adelaide, também na Austrália

Ok, cadê os físicos? Tem quântica e não tem físico? Vou começar a escrever artigos na área de otorrinolaringologia...

O resumo está escrito aqui:

Previous research has demonstrated the effects of ostensible subtle energy on physical systems and subjective experience. However, one subtle energy technique that has been neglected, despite anecdotal support for its efficacy, is Quantum BioEnergetics (QBE). Furthermore, the influence of paranormal belief and experience (either real belief/experience or suggested belief/experience) on subtle energy effects remains unclear. (tradução)

Como vocês podem ver, eles trabalham com a existência da Energia BioQuântica (QBE), que por sua vez não possui comprovação científica. Como foi destacado no próprio "artigo":


É possível ver que a QBE, criada por Ms. Melissa Hocking que hoje é instrutora de QBE, foi publicado como livro de "métodos de cura alternativos" que é bastante divulgado no meio de publicações NewAge. Sendo assim a pesquisa acima parte do pressuposto de que essa "energia" existe de fato, mesmo ela nunca tendo aparecido em nenhum outro paper. Olhando para esse próximo print abaixo, vemos que eles alegam que o Quantum do nome apenas faz referência a um tipo de "emaranhamento" entre o paciente e o médico e que não possui nenhuma base empírica e/ou teórica para o uso da palavra, sendo assim não se encaixa exatamente em cura quântica:

 
Assim, podemos ver claramente que não existe publicação científica na área de cura quântica propriamente dita. Não estou dizendo que é mentira, estou dizendo que não é ciência! E esse ponto eu quero abordar com mais precisão, pois sempre que vejo pessoas falando sobre esse assunto é utilizado jargões científicos em larga escala, além de fenômenos como “salto quântico” (essa é a nova moda), propriedades dos elétrons, ondas, partículas, campos, incerteza, colapso da função de onda, etc. Mas quando são contestados de que a ciência não prova nada do que é afirmado e que estão fazendo uso indevido desses jargões, as respostas são sempre as mesma “você tem que abrir sua mente”, “nossa ciência ainda é atrasada”, “você é muito cartesiano”, “a ciência não é dona da quântica”, “ninguém aqui disse que é ciência”. E eu acho todo esse “argumento” uma enorme paralisia mental e um uso egoísta da ciência como objeto descartável.

A partir do momento que esses líderes de seitas se dizem baseados em ramos da ciência, usam os mesmos termos usados pelos cientistas e se dizem embasados por experimentos fica descarada a sua tentativa de vender a ideia como científica, como sólida. Nesses termos a ciência passa por um item de conveniência apenas; enquanto ela corrobora para o que se acredita é usada como propaganda, quando ela contradiz é rebaixada e criticada. A mística quântica é vendida como se fosse ciência e defendida como se fosse religião, o que para mim torna esse assunto irritante demais de se tratar.

Um ponto problemático e que ajuda a embasar esse "boom" de coisas quânticas é a visão estupidificante e absolutamente errada de  que “A quântica é uma terra sem lei” (Estou olhando para você, Super Interessante!) ou que ninguém entende nada dela³. A Mecânica Quântica não é uma terra sem lei, não é a casa da mãe Joana, não é o bordel da luz vermelha. Embora ela seja probabilística, isso não a impede de ter leis claras que conseguimos compreender e trabalhar com elas em laboratório, além de conseguirmos aplicar em uma imensidão de tecnologias.

Ilustrando melhor, quando trabalhamos com o átomo de hidrogênio, por exemplo, nós sabemos qual energia esperar para o elétron em sua eletrosfera, sabemos o spin do elétron e do próton que forma o núcleo, conhecemos o momento angular orbital total, etc. Nós podemos também calcular a probabilidade de encontrar o elétron em uma determinada região da eletrosfera, mas logo notaríamos que em alguns lugares essa probabilidade é zero. Ou seja, não existe possibilidade alguma de se encontrar o elétron em determinada regiões específicas da eletrosfera de um átomo de hidrogênio (veja o gráfico abaixo). Da mesma forma, para muitas leis da mecânica quântica é possível calcular a probabilidade para o que quisermos, como afirmam os textos que dizem que a MQ é uma terra sem lei, porém em várias situações essa probabilidade será zero, mostrando claramente que aquilo não é permitido!

Os picos representam as regiões de maior probabilidade de se encontrar o elétron
enquanto que as regiões mais baixas (que encostam no eixo inferior) possuem
probabilidade zero de encontrar o elétron.


A quantização de propriedades como energia e momento angular por exemplo, são na realidade limitantes, pois com a quantização essas propriedades podem assumir apenas valores específicos e não valores contínuos como na mecânica clássica. Esse é apenas um panorama altamente superficial para que você possa notar que a mecânica quântica tem muitas leis, algumas delas são de fato difíceis de se observar ou compreender, mas elas existem e são rigorosamente cumpridas. Espero em próximo texto poder tratar isso de forma mais aprofundada.

Para encerrar, eu acho que essa mística quântica vende tanto assim porque ela pega justamente na necessidade infantil de o ser humano se sentir importante para o universo. Para muita gente é difícil viver com a ideia de que ela não comanda tudo a sua vontade ou que o "cosmo" não conspira a seu favor, então obviamente que muitos irão adorar ler sobre isso e defender apaixonadamente. A vocês que pensam assim só tenho uma coisa a dizer: Sinto muito, mas quanto mais estudamos, mais vemos que quem manda no jogo é o universo, e ele está totalmente alheio as nossas necessidades infantis de satisfazer nosso ego.

Queria deixar claro também, que assuntos como consciência quântica, cura quântica e vários outros que se encaixam na categoria de pseudociências devem sim ser estudados com o rigor da ciência, mas não da forma apaixonada que é feita por alguns "pesquisadores" atualmente. Apenas com estudos sérios conseguiremos de fato enxergar mais longe sem nos deixar enganar.
O texto ficou enorme, mas espero que tenha ficado claro que não existe base científica para a cura quântica e nem para seus produtos. Também espero que tenha ficado claro que não existe "terra sem lei" se tratando da mecânica quântica.



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1 - "Citações" se referem a quantas vezes aquele artigo foi utilizado por outros pesquisadores em papers da área. No caso, a relevância de um paper pode ser vista também por sua quantidade de citações.

2 - "Fator de Impacto" mede a relevância dos periódicos, quando eles possuem um F.I baixo significa que quase ninguém a dá mínima para aquele periódico.

3 - Nem perca seu tempo vindo me dizer que o Feynman disse que "quem acha que entendeu quântica significa que não entendeu nada"....



Reforçando: não vou aceitar comentários falaciosos defendendo misticismo quântico e nem venha com aquele papo de que isso humaniza a ciência, pois isso demonstrar um puta desconhecimento de como as ciências naturais e humanas funcionam!

A prejudicial postura dos documentários científicos.

Esse é meu último post do mês (talvez do ano) sobre esse assunto, mas como uma parte significante desse blog será voltada para leigos, então acho relevante um alerta antes de dar um tempo no assunto.

A divulgação científica cumpre um papel fundamental na sociedade que é o de auxiliar e incentivar a alfabetização científica. Porém nem tudo é tão bonito e útil assim, na verdade a divulgação científica é algo muito perigoso e, algumas vezes, ingrato.

Quando alguém se propõe a levar o conteúdo científico para a massa, se tem um grande desafio; pegar o conhecimento de forma bruta e lapidá-lo até chegar à uma forma que seja compreensível para um leigo. O primeiro problema é “como explicar um assunto complexo sem utilizar termos técnicos e sem matemática?”. Na tentativa de realizar esse trabalho MUITOS erros são cometidos pela simplificação, muitas generalizações e distorções são feitas para se chegar a “facilidade de absorção do conteúdo”. Mas apesar desses encalços a divulgação científica tem cumprido o seu papel?  A resposta está longe de ser trivial e única, então nesse texto vou expor minha opinião relacionada a documentários e revista destinados a população de modo geral.

A divulgação científica deveria ter por objetivo chamar a atenção do leigo para o que de fato é a ciência, o que ela faz e como ela faz. Mas o que temos sendo divulgado à população são matérias que se prendem em temas quase totalmente ficção científica. Não há um documentário que aborde de forma concisa as raízes da ciência, a forma de pensar dos cientistas, como a ciência é feita, os trabalhos sólidos e principalmente os conceitos básicos da fenomenologia. Não adianta uma pessoa aprender que supostamente a teoria da relatividade suporta idéias de viagens no tempo se nem ao menos essa pessoa conhece e compreende razoavelmente os postulados da teoria da relatividade, ou não conhece os conceitos básicos da conservação de energia.

Em nossa página é muito comum recebermos pedidos para tratarmos de “teorias” e aplicações psicodélicas envolvendo a física, como a fabricação de armas de antigravidade a partir da manipulação do gráviton (?), ou então nos depararmos com pessoas acreditando que assuntos como universos paralelos/multiversos são amplamente aceitos no meio científico.

Outro problema evidente advém das simplificações nos conceitos físicos que muitas vezes chegam a estar erradas, como o caso clássico do spin que eu mesmo já vi sendo tratado como a rotação da partícula. Tudo bem, nesse ponto você pode me dizer “ah, mas as pessoas irão pesquisar mais sobre o assunto e tomarão conhecimento que não é bem sim”. Mas essa visão é um tanto romantizada, salvo raras exceções, poucas pessoas de fato procuram por mais informações após receberem conteúdos errados ou incompletos. Até mesmo quando se tenta buscar mais informações você corre grandes riscos de encontrar conteúdo ainda mais errado ou simplificado do que foi passado por documentários. Pois grande parte do conteúdo de divulgação científica em português é feito por pessoas bem intencionadas, mas que não conhecem muito sobre o assunto e acabam por propagar os erros conceituais que elas absorveram.

Vejo que a divulgação científica de grandes mídias não tem auxiliado de forma satisfatória a alfabetização científica e também não anda tendo grande êxito no incentivo da mesma.

O problema do auxilio à alfabetização científica é mais fácil de resolver do que o incentivo a ela, bastava que os documentários tirassem o foco de teóricas e conseqüências mirabolantes apenas para chamar a atenção do público leigo, dando atenção para conceitos e fenômenos fundamentais da natureza que de fato agreguem algum conhecimento que possa ser usado para entender fenômenos mais complexos e, também, que se aborde as aplicações desses conceitos e o impacto social do mesmo de forma realista.
Infelizmente essas divulgações têm conseguido passar idéias negativas da ciência, pois facilmente uma pessoa pode ser levada a acreditar que a ciência não passa de uma coleção de teorias malucas baseadas em achismos de cientistas igualmente malucos, abrindo verdadeiras brechas ao pseudocientificismo e a anticiência.

Já o incentivo a alfabetização científica é um ponto muito crítico, pois ele reside muitas vezes na cultura e/ou condição social de um povo e só pode ser mudado pelo esforço de um governo comprometido com o desenvolvimento científico, tecnológico e educacional a partir de investimento de porte, cabendo aos outros meios o auxilio nessa difícil empreitada.
Assim, deixo ao leitor leigo algumas dicas que você deve tomar ao assistir esses documentários e ler as matérias de revistas e jornais:

1 – Cientistas divulgam seus trabalhos acadêmicos em periódicos sérios como a NATURE, SCIENCE e etc, não em livros de divulgação científica, documentários ou jornais.

2 – Muito provavelmente os conceitos que você verá na divulgação científica foram um pouco distorcidos para facilitar seu entendimento, portanto procure livros que tratem do assunto de forma mais técnica e caso tenha dificuldade em compreender procure ajuda de um amigo que trabalhe na área, use o ask pergunte ao físico, procure algum blog confiável.

3 – Dê prioridade para livros e Blogs sérios, principalmente desses autores: Richard Feynman, Carl Sagan, Brian Greene. Veja a lista de blogs que sigo na barra no topo da página!

4 – As únicas duas séries que conheço que até hoje cumpriram um excelente papel foram “Cosmos” e “O Universo Mecânico”, as outras se mostraram completamente descartáveis frente a essas duas. O problema é que eles dão muito sono.

5 – SEMPRE cheque as fontes. Artigo sem fonte é artigo sem credibilidade NENHUMA. (sempre repare no tanto de citações e fontes que usamos nos hiperlinks e/ou ao final dos textos) 

6 – Discuta e pesquise sempre as informações obtidas em documentários.

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Bom, é isso, deixem seus comentários sobre o assunto que tento discutir alguns pontos com vocês.
terça-feira, 23 de julho de 2013
Posted by Thiago V. M. Guimarães

A Divulgação Científica no Facebook; Praga ou Salvação?

O facebook é um excelente lugar para se divulgar ciência, uma vez que o alcance das páginas é bem grande e a facilidade de disseminação de conteúdo é enorme. A política do faça você mesmo que existe nas redes sociais garante ainda uma enorme liberdade e originalidade de conteúdos. Por esse motivo criamos a nossa página no facebook e na época existiam poucas páginas que tratavam de ciência em língua portuguesa, mas pouco tempo depois que surgimos a página do Universo Racionalista também surgiu e cresceu bem rápido, após isso surgiram várias outras, talvez influenciadas pelo alcance da UR.
Como eu já cansei de falar, aqui no Brasil não temos incentivo algum para a ciência e nem o mínimo de mobilidade do governo para suprir o analfabetismo científico da população. Com isso as páginas de facebook poderiam, ou até deveriam, ter um importante papel social na divulgação da ciência. Porém as coisas não são bem assim…
O crescente número de páginas tem sido acompanhado também de uma enorme queda da qualidade do conteúdo postado. É muito comum encontrar textos incorretos ou que nem sequer fazem sentido, além de fontes sem credibilidade, assuntos pseudocientíficos sendo tratados como ciência, etc. Isso tem acontecido porque na maioria dos casos falta preparo das equipes das páginas, o mais comum hoje é ver pessoas na faixa dos 12 aos 20 anos, que obviamente não tem formação acadêmica, realizando esse tipo de trabalho, então é claro que algumas coisas tenderiam a dar errado.
Já comentei anteriormente que é excelente essa moda de gostar de ciência, porém ela tem alguns traços negativos que chamam atenção. Primeiramente vemos que o que movimenta páginas de “ciência” não é ciência e sim fotos e piadas, tanto no Physics ACT quanto na UR os post com artigos e textos científicos recebem uma parcela insignificante de compartilhamentos e curtidas quando comparados aos outros posts. Segundo que textos maiores que dois twitts são considerados quimeras assustadoras pelos leitores. Com isso muitas páginas de “ciência” tem se focado em posts com frases, fotos da via láctea e do universo e textos no sabor de Not-even-wrong.
Dessa forma, tais páginas se tornaram uma faca de dois gumes, se desperta o interesse do leigo e leva, de certa forma, informação até ele, porém a qualidade dessa informação muitas vezes é nula ou até negativa, causando um impacto avesso ao necessário.

Mas a culpa é de quem na verdade? Do meu ponto de vista, é de todos um pouco, não temos preparação de adolescentes por parte das escolas no estudo de ciências, não temos apoio do governo, quem é capacitado para tal finalidade quase sempre está muito ocupado ou não quer fazer, aí sobra para quem não sabe fazer o serviço.

Ainda existe um outro problema; a arrogância.  Muitas páginas simplesmente não aceitam ser corrigidas quando fazem cagada. Nós que trabalhamos com divulgação de ciência estamos sempre sujeitos a cometer erros, juntando com a inexperiência dessas pessoas o erro é fato confirmado, mas errar é normal, depois corrige e se retrata com os curtidores. Porém ao invés disso alguns preferem começar verdadeiras bravatas de discussão para defender o erro e mantém a informação errada lá, fazendo um verdadeiro desserviço a divulgação científica e muitas vezes corroborando para a disseminação de pseudociência e anticiência.

Como melhorar isso? Essa pergunta é difícil, não vou falar aquele mantra sobre investimento do governo e etc. Mas o que se pode fazer inicialmente é ter humildade, se você está no ensino médio com certeza você não sabe quase nada de ciência, então vá estudar, estude muito para que você ao menos entenda um pouco do que você está divulgando. Segundo, não fale sobre o que você não sabe, isso foi uma coisa que aprendi com a experiência, quando somos leigos apaixonados por ciência nós quase sempre queremos escrever textos sobre determinado assunto, porém a falta de conhecimento da área nos leva a cometer inúmeros erros de generalizações. Hoje em dia quando leio textos de física que escrevi no Ensino Médio vejo o tanto de erros que cometi, então se quer escrever, escreva, mas peça ajuda para alguém que entenda academicamente sobre o assunto, sempre que eu preciso eu procuro meus amigos especialistas em determinados assuntos para me ajudarem, isso é de fato algo primordial. Terceiro, escolha bem seus moderadores. Infelizmente não importa o quão legal seja uma pessoa, você precisa de moderadores que saibam o que estão fazendo, ou ao menos que estejam dispostos a se esforçar para aprender. Quarto, tome muito, MAS MUITO cuidado com suas fontes, elas são os sustentáculos do conteúdo, então busque sempre sites de universidades, revistas especializadas e etc. Quando for citar blogs conheça o autor, saiba quem é ele, busque por mais informações sobre o assunto, outros pesquisadores da área, enfim, entenda a relevância e a veracidade do conteúdo postado.

Uma dica à você estudante de ciência ou pesquisador que adora sair por aí difamando páginas e arrumando briga: Se você não está disposto a fazer divulgação não faça, mas não atrapalhe a tentativa de quem está se esforçando, se você viu algo errado no texto, gaste o tempo que você ia perder sendo arrogante para corrigir educadamente a página, assim você estará contribuindo para quem de fato está fazendo algo.

E para você senhor da ciência que está juntando mofo na sua sala no departamento de física, deixe de tomar uma xícara de café e de fumar um cigarro e vá escrever um texto explicando algo que você trabalha para os leigos, dedique 5 minutos do seu dia para ajudar a diminuir o analfabetismo científico que você vai ter a honra que de viver em um país menos ignorante!

À você curtidor;  pare de ser preguiçoso! Depois de ler qualquer coisa em uma página vá procurar se informar melhor, vá pesquisar sobre o assunto em sites de confiança, pergunte ao seu professor, mande e-mail para algum cientista que você conheça, perturbe a gente no ask "Pergunte ao Físico". Enfim, se mexa e seja um curtidor ativo!

Mas não vou ser apenas um acusador, vou dar uma ideia de melhoria, obviamente que ninguém vai se importar.

Se algumas universidades abrissem para a sociedade pequenos cursos de divulgação científica em mídia virtual ensinando aos interessados um pouco da forma que a ciência é trabalhada, como divulgá-la, como pesquisar e utilizar fontes confiáveis, etc. Isso já seria muito significante e tocaria nos principais pontos de carências das páginas e blogs de hoje.... Mas quero ver é alguém ter vontade!
sábado, 20 de julho de 2013
Posted by Thiago V. M. Guimarães

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