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10 argumentos que você não deve usar em uma discussão sobre misticismo quântico
Estava aqui moscando, olhando para o Maple plotar umas
soluções numéricas para uns problemas em TQC que eu estou resolvendo, como isso
está demorando muito e basicamente o meu notebook fica tão lerdo que trava até
o navegador da internet (maldito Windows!), resolvi escrever esse texto como
apêndice para o texto anterior sobre cura quântica, pois pretendo pôr uma pedra
em cima disso.
Antes de tudo, esse texto tem a intenção de valer para
qualquer assunto pseudocientífico que envolva física, uma vez que ele será bem
genérico. Minha intenção é dar dicas de “como não discutir com um físico sobre
misticismo quântico”, então já aviso que esse texto é para ser assim mesmo,
sarcástico e nem um pouco informativo. Estou baseando as linhas a baixo nos
"argumentos" que já ouvi e li de pessoas que defendem o assunto, dessa forma se
você estiver em uma discussão relativa ao tema utilize esse texto para que você
não perca seu precioso tempo tentando discutir com os mesmo argumentos de
sempre. Mãos a obra:
10 + 1 Argumentos que você não deve usar ao discutir
assuntos sem provas científicas com físicos:
1 – Apelo à autoridade
Um dos argumentos
mais utilizados é uma falácia clássica do apelo à autoridade.
“Amit Goswami é (SIC) físico de Havard”
“Fulano de Tal, diretor do departamento de física de Cambridge, acredita no Capra”
“Laércio Fonseca tem mestrado na UNICAMP”
“O renomado físico do departamento de mecânica quântica de Skirym faz meditação transcendental”
“Walter White tomou homeopatia contra o câncer”,
“Einstein disse…”, “Heisenberg falou…”, "Homer Simpson provou…”....clap, clap.
Se você está discutindo com um físico/estudante/ser humano
normal e você pensa em usar um argumento parecido, semelhante ou que lembre alguma
dessas frases acima, nem perca seu tempo. O fato de qualquer pessoa acreditar,
ter falado ou “achar” algo não significa absolutamente NADA, não importando o
quão graduada seja essa pessoa, pois existe um abismo entre opinião pessoal e
uma evidência científica. A opinião não significa nada além de uma interpretação
baseada unicamente nas experiências de vida e preconceitos de uma pessoa, não
necessariamente passando por qualquer analise critica, o que é bem diferente de
uma evidência científica. Então não adianta colar frases de Einstein ou dizer que
fulano acredita nisso, se não existem evidências a respeito à opinião pessoal de
Einstein é tão relevante quanto à do seu padeiro.
Ah, pra falar a verdade seria legal se você não usasse esse
argumento nunca, não importa com quem ou o que você discuta, pois sem dúvida essa
é uma das falácias mais babacas que existem.
2 – A ciência provou.
Ahhh… esse é desesperador, quando eu leio isso tenho vontade
de jogar meu computador pela janela. Antes de dizer a “ciência provou”, que por
si só já não é epistemologicamente muito correto, você deve saber quais foram
os cientistas envolvidos nessa “prova”, onde o trabalho foi publicado, quantas
vezes ele foi citado, etc. Sair dizendo que a “ciência provou” algo é
simplesmente um argumento estúpido e vazio. Sem você mostrar como isso foi
"provado" é impossível discutir sobre o assunto, então, por favor, encontre as
publicações que "provem" o que você está dizendo, mas não vá pegar elas em livros
como “Alma Quântica”, “Xacra Quântico”, “Saúde Quântica da Madame Satan” e
muito menos em documentários. Documentários são simplesmente a mais baixa
categoria informativa sobre descobertas científicas¹. Então encontre
publicações científicas de verdade, se você não sabe como fazer isso é só
assinar os feeds desse blog que em breve vou escrever um texto sobre como
pesquisar por artigos.
3 – Apelo a Ignorância.
“Universo é muito complexo, nossa ciência é muito primitiva, portanto, tudo é possível e não sabemos nada”.
Novamente essa é uma falácia muito usada para defender
qualquer tipo de crença. Acho que sempre que posto algo relacionado à Mecânica
Quântica esse é o ponto que mais marcam em cima. Mas serei razoável, pois
realmente a mídia adora destacar que sabemos pouco do universo e que por isso
tudo é possível.
a)– O fato de não sabermos nada sobre um assunto não é prova
de que você está certo, é no máximo um motivo para não descartarmos o que você
está alegando.
b) – Antes de você afirmar que não sabemos nada, pare um
pouco e reflita. O que você sabe sobre a forma que a ciência agrega
conhecimento, como ela lida e aplica e ele? Olhe para esse monte de tecnologia
a sua volta, o que possibilitou isso tudo? Para construir essas tecnologias nos
precisamos entender “corretamente” como o universo funciona? Para mandar
corretamente nossas sondas para Marte, nossas teorias sobre gravitação têm que
estar corretas? Para fazer seu Iphone, Tablet, notebook, as leis da quântica
que descobrimos podem estar erradas?
Eu particularmente não gosto de atrelar a tecnologia como
justificativa para a ciência, mas acredito que no momento esse exemplo seja o
mais palpável. Para termos toda essa tecnologia precisamos que nossa
ciência esteja, com boa aproximação, correta. Nós compreendemos bem muitas leis
do nosso universo, muitas forças, muitas interações, muitas partículas. Você
pode ver isso facilmente, nós prevemos eclipses, máximos solares, prevemos a
existência de planetas e depois descobrimos de fato, conseguimos mandar sondas
para os mais diversos lugares e com grande precisão. Conseguimos fazer
tratamentos médicos baseados na física moderna e mais uma infinidade de coisas
que não seriam possíveis se nossas teorias estivessem erradas ou se nós não
soubéssemos nada sobre o universo. São as mesmas teorias que nos permitem levar
alta tecnologia a casa de vocês que também nos permitem, por exemplo, estudar
assuntos mais abstratos como o bóson de higgs, teoria do big bang, matéria
escura. Felizmente existem muitos e muitos mistérios no universo a serem
descoberto ainda, mas nós estamos trabalhando nisso e sabemos como prosseguir,
não somos um bando de macacos em um laboratório fazendo coisas aleatórias para
saber seus resultados.
Por favor, não use nossa ignorância para tentar
corroborar assuntos que nem sequer a ciência trata. Nossa ignorância existe e é
muito grande, porém existem muitas coisas que sabemos e são justamente essas
coisas que sabemos que nos permite, com prudência, descartar hipóteses absurdas.
4 – Humanização da Ciência.
Essa é até um pouco nova pra mim, mas me deparei com um
argumento desse tipo há pouco tempo aqui no blog.
“Considerar temas como “a mente colapsa a função de onda” são importantes porque humanizam a ciência e assim a gente não vai sair por aí jogando bombas nas cabeças uns dos outros.”
Ok, pra mim não faz sentido, mas se pensa em usar alguma
coisa nessa linha argumentativa mude de idéia. A ciência por si só já é uma
coisa humana e ela não vai deixar de ser menos humana por não aceitar hipóteses
sem evidência alguma. O mau uso da ciência em nada tem a ver com a forma que
procedemos em aceitar alguma hipótese, têm a ver com ética profissional tanto
de cientista, engenheiros, políticos, etc.
Eu enquadraria facilmente esse tipo de argumento em uma
falácia “non sequitur”, pois não faz sentido associar o mau uso da ciência com
uma suposta “não humanização” da mesma que nem ao menos existe. Afirmar uma desumanização
da ciência é não ter conhecimento algum sobre como ela funciona, dê uma lida
nesse breve texto: A Ciência Exata é Social.
5 – Nós não conhecemos nada da mecânica quântica e ela
permite tudo.
Esse argumento é muito semelhante ao terceiro, mas ele tem
um adicional. Geralmente as pessoas acham que a física quântica é naturalmente sem leis,
ou que apenas a estatística a rege. Os argumentos mais comuns nessa linha de
pensamento são:
“Ninguém compreende a mecânica quântica de verdade, pois as leis são muito bizarras”
“Feynman falou que se você acha que entendeu mecânica quântica é porque você não entendeu nada”
“A mecânica quântica é uma terra sem lei.”
“A mecânica quântica dá margem a tudo”
Esses argumentos não procedem, e o segundo ainda vem com
um adicional de apelo a autoridade. A mecânica quântica é uma teoria muito
bonita que não funciona pra tudo, tem leis bem definidas que nós conhecemos
muito bem, mas claro que existem alguns paradoxos ou efeitos que não
conseguimos ainda explicar com perfeição, como o emaranhamento
quântico, por exemplo. Em alguns casos nós até conhecemos bem as leis e sabemos
como trabalhar com elas, mas não entendemos direito o porquê delas existirem
exatamente. Ainda sim nada disso dá
margem a interpretações místicas ou embasa afirmações de que a Mecânica
Quântica é incompreendida, ou que tudo pode acontece.
A quântica menos ainda dá margem a “tudo”, na verdade ela
até restringe algumas coisas bem mais do que a física clássica. Quantizar
significa atribuir valores discretos a algo, e por valores discretos compreenda
como “não contínuos”. Assim se na mecânica clássica uma partícula pode ter
momento angular (a,b,c,d), quanticamente pode ser que a partícula só possa ter momento
(a,b), por exemplo. De forma mais palpável, imagine que a física clássica seja
nossas leis de trânsito², por lei você sabe que em determinados lugares você
deve atravessar sobre a faixa de pedestre apenas. Uma versão quântica das nossas leis
de trânsito poderia dizer que você só pode atravessar na faixa de pedestre e
pisando apenas sobre as faixas brancas. Dessa forma a nossa “lei quântica de
transito” restringiu ainda mais as possibilidades de atravessar a rua, agora
além de ser apenas na faixa de pedestre você só pode pisar na faixa branca. Da
mesma forma acontece na quântica, muitas vezes ela é mais limitante do que a
própria mecânica clássica.
6 – Opinião pessoal.
Muitas vezes quando estamos discutindo com alguém sempre
caímos em um impasse legal, de um lado nós defendendo um ponto de vista que é
um consenso na ciência e do outro a pessoa defendendo o que ela acha que é verdade. Aí surgem
os argumentos:
“Ah, mas essa é a minha opinião”
“Eu acho que é assim”
Serei categórico e mal educado: Foda-se sua opinião! Se você
não sabe nada de física, nada de ciência e quer discutir um assunto tão complexo
quanto esse, a sua opinião simplesmente não tem peso algum. Se você se matou de
estudar mecânica quântica e descobriu que o pensamento cura quanticamente as
pessoas, então pare de perder seu tempo com discussões, escreva um paper e o
submeta a uma revista científica que possua revisão por pares, que tenha um bom
fator de impacto, espere ser citado muitas vezes e que comprovem ou refutem
o que você está alegando.
7 – Tipo diferente de ciência
Esse é ótimo e vem em várias versões. Tem a versão:
“Colchão quântico é uma ciência nova desconhecida”
E também a famosa:
“Ah, crochê quântico é um tipo de ciência milenar chinesa/indiana que nasceu no Tibet” (que?)
É até complicado tentar começar a falar sobre isso, pois é
muito absurdo. Tipo, os caras pegam todo nosso jargão científico, falam de
experimentos que fizemos, misturam isso em uma salada com misticismo oriental e
vem falar que é outro tipo de ciência. Gostaria muito de saber que tipo de
ciência é essa que não produz nada além de livros de auto-ajuda e quinquilharias
quânticas que você pode comprar por um preço absurdo no Ebay.
Resumindo, um tipo misterioso de ciência oriental que não
segue os mesmo métodos da ciência ocidental se apossa dos nossos jargões,
aplicam em outro contexto que não tem relação nenhuma e a coisa ainda está
certa?! É tipo como recortar a peça de outro cabeça para fazer ela se encaixar
no seu?! Vou aproveitar para inventar um tipo diferente de misticismo que considera isso tudo um embuste!
8 – A Ciência não é dona da quântica nem da ciência.
Esse me faz chorar de rir:
“A Ciência não é dona da quântica”
“A Ciência não é dona da Ciência”
Que? Como assim? Alguém poderia explicar isso direito? A ciência constrói a teoria quântica e ela não é “autoridade” no assunto? Se um grupo de cientistas provarem algo e um monge lá do Tibet baseado em sua filosofia de vida disser que está errado, ou se o grande mestre Samael Aun Weor, em seu veículo astral, for até o Sol e os habitantes de lá disserem a ele que os cientistas estão errados então nós teremos que levar isso em consideração? é isso?
Esse argumento é altamente estúpido, pense bem antes de usar
ele.
9 – Argumento da paralisia mental filosófica.
Esse é péssimo por inúmeros motivos. O principal deles é que
uma conversa com uma pessoa que usa esse tipo de argumento simplesmente não
chega a lugar nenhum. Pois não importa o que você diga, essa pessoa nunca vai mudar de ideia e você
sempre será o cartesiano positivista da história. Então argumentos do tipo:
“Ah, mas a dialética….”, “Filosoficamente tudo pode existir”, “defina definir”, “Você está com um pensamento muito atomista"
Aqui a minha dica vai para o físico/estudante que está na
discussão; não perca seu tempo, vá estudar que você ganha mais.
10 – A evidência anedótica e o placebo
Um clássico que deve ter nascido com a humanidade. Em um
belo momento da discussão a pessoa resolve usar ela própria como prova:
“porque eu senti, então existe”
“porque uma vez um ET quântico massageou minhas costas”
“Porque a cura quântica me curou”
Esses argumentos são
clichês a máxima potência e não podem simplesmente ser levados em consideração, pois
a forma que interpretamos experiências pessoais está diretamente relacionada há
muitos fatores que ponderamos com extrema dificuldade. Duas pessoas que passam
pelas mesmas experiências de vida nunca possuem exatamente os mesmo pontos de
vistas e interpretações. Outro problema são os diversos efeitos que nosso
psicológico causa na nossa percepção de mundo, mais intrigante ainda são efeitos
que podem acometer até grupos inteiros de pessoas, como a histeria coletiva. Por si
só, esses efeitos psicológicos e sociopsicologico já são suficientes para
enfraquecer esse tipo de argumento, fazendo que ele caia no problema do ponto do vista que já
falamos. Nem vou tocar no ponto de que você pode ter algum tipo de
esquizofrenia ou outro transtorno social/neurológico que dificulta um
julgamento mais conciso e lúcido de suas experiências.
Se você foi curado ou não pela cura quântica, vodu
relativístico ou qualquer outra dessas coisas, simplesmente é impossível dizer,
pois não podemos distinguir se foi efeito placebo ou não. A forma mais segura de
verificar se realmente a cura quântica funciona é fazendo testes sérios com
vários grupos, comparando placebos controles, etc. Então não adianta você falar
o quão maravilhosa é a cura quântica, o ativismo quântico, ou qualquer coisa
assim baseado apenas em sua vida, portanto não use esse argumento.
11 – Comparação com teorias físicas ou.... "É só uma teoria"
De brinde, você ganha essa assustadora falácia. Ela funciona
mais ou menos assim:
“A teoria do Big Bang também era absurdo”
“A mecânica quântica parecia pseudociência”
“A teoria das cordas….”
"É só uma teoria"
Esse tipo de argumento geralmente me faz encerrar a conversa
na hora, pois demonstra o total desconhecimento da pessoa de como a ciência é
feita. Todas essas teorias vieram de bases solidas e de interpretações
científicas e matemáticas de outras teorias bem sucedidas que já tínhamos, não foi
algo tirado do chapéu ou misturado com misticismo oriental. Esse argumento é
bullshit total, evite isso!
Podemos resumir tudo que foi dito acima com “aprenda a
discutir e a julgar racionalmente as informações, evitando ao extremo usar suas
paixões”. Obviamente que esse assunto deve sim ser discutido, mas se estamos
falando de ciência então devemos fazer isso de forma séria e responsável,
sempre dando respaldando as nossas afirmações.
E para me despedir, gostaria de dizer que agora vai demorar um pouquinho para nosso próximo texto, mas prometo que ele será no máximo em novembro e sobre o tema "vácuo quântico".
Até breve.
1 - Documentários cumprem sim sua função de divulgação científica, o que é bem diferente da função de um periódico. Então note essa leve diferença no que falei.
2 - É, acho que acabei de criar a legislação quântica de trânsito, se alguma editora tiver interesse podemos publicar algum livro de auto-ajuda ensinando as pessoas a serem felizes quando estão dirigindo usando as leis quânticas de trânsito.
Até breve.
1 - Documentários cumprem sim sua função de divulgação científica, o que é bem diferente da função de um periódico. Então note essa leve diferença no que falei.
2 - É, acho que acabei de criar a legislação quântica de trânsito, se alguma editora tiver interesse podemos publicar algum livro de auto-ajuda ensinando as pessoas a serem felizes quando estão dirigindo usando as leis quânticas de trânsito.
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Posted by
Thiago V. M. Guimarães
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Notas nas graduações científicas
Os
últimos textos postados abordaram
situações que fazem parte do nosso cotidiano. E então,
aproveitando essa linha, e como sinto falta de um texto a respeito
desse assunto, resolvi escrever para mostrar um pouco da realidade
dos graduandos, para quem pretende entrar na universidade e também
para levantar questões que acredito pertinentes.
Claro
que não conseguirei escrever a respeito de todos os problemas que
enfrentamos, mas futuramente posso tentar escrever mais acerca de
como é estar na graduação, como está o preparo de quem entra na
graduação e como os formandos, em média, saem da graduação. Acho
que esses pontos são muito importantes, pois esses graduandos e
recém formados poderão ser nossos pesquisadores e professores.
Então,
vamos ao que interessa.
Algo
que percebi desde que entrei na graduação é que apesar dos
professores afirmarem que nota não é importante, no fundo isso é
cobrado de nós todos os dias, tanto pela postura de muitos
professores quanto do que é avaliado para conseguirmos um orientador
e uma bolsa de iniciação científica.
Mas
a pergunta que fica é: qual o problema de nos focarmos nas notas?
Bem,
eu vejo de uma maneira simples. Em grande parte das vezes a nota não
avalia corretamente um aluno, mas o problema vai além. Quando o
aluno foca em tirar notas e não em aprender, temos um problema
grave. Porque assim o aluno está se preparando para responder o que
o professor quer ler (ou ouvir em alguns casos), ao invés de estar
refletindo e construindo seu conhecimento de forma significativa , ou
seja, o aluno se tornou uma maquininha de resolver "problemas"
padrões e não alguém que um dia poderá ser um pesquisador ou
professor que se deparará com diversos problemas diferentes não
vistos em sua graduação e será capaz de trata-los de forma
crítica.
Então
é possível perceber que não se está oferecendo a esses alunos a
oportunidade da reflexão e da crítica, mas sim uma receita de bolo
ensinada pelos livros e professores,o que pode acarretar que diversas
pessoas não desenvolvem
criatividade e reflexões críticas, fazendo com que o processo de
formação de pesquisadores se torne muito mais longo. Além de esses
alunos poderem não ter aprendido significativamente o conteúdo, de
forma que o mesmo poderá ser esquecido no futuro.
A
iniciação científica foi uma forma para tentar reduzir esse
problema, visando ensinar ao aluno que o processo de aprender, apesar
de desenvolvido coletivamente, é individual, e deve ser buscado por
conta própria. Mas mesmo assim o aluno se forma mal preparado e não
desenvolve uma mentalidade de pesquisador, pois se acostumou com um
método tradicional e individualista. A bem da verdade, muitos
graduandos (principalmente bacharéis) saem sem saber o básico a
respeito de métodos científicos e sua validade, da diferenciação
de fontes confiáveis e inseguras, da compreensão e importância de
debates acerca do que é ciência e qual seu impacto social,
político, cultural, entre outros.
Mas
alguém pode perguntar, ao estudar para uma prova você já não
estaria aprendendo? Essa é uma questão relativa. No curso de
Física, apesar de termos poucos assuntos durante um semestre, esses
assuntos são mais aprofundados, o que faz que tenhamos muitas provas
e assim menos tempo para nos dedicarmos para aprender, e a forma como
são abordados faz com que seja mais fácil e vantajoso estudar para
uma prova pelas listas que os professores fornecem e anotações das
aulas do que tentar aprender e demonstrar como surgiram aqueles
conceitos físicos e matemáticos.
Isso
que nem estou levando em conta que deveríamos também compreender
relações histórica e filosófica por trás daqueles conceitos,
porque além delas nos ajudarem a fixar e entender melhor como e por
quem a ciência é construída, nós iremos dar aulas. Ou você achou
que mesmo sendo bacharel não ia ter que dar aulas? Aqui no Brasil
existem poucas áreas na ciência que você não terá que ir para a
área acadêmica, ou seja, você cursou bacharel, não foi preparado
para ensinar, não foi preparado para pensar sozinho para resolver
problemas mais complexos, não conhece as discussões que rodeiam a
ciência e vai se tornar um professor.
Esse
é um dos motivos de por que na graduação termos muitos professores
que não fazem ideia de como ensinar e nem do que estão fazendo em
sala de aula. Sendo que esses professores só conhecem, ou acreditam
no método tradicional de ensino, e estão acostumados com provas que
não são reflexivas e não tentam investigar se a aprendizagem de um
aluno foi significativa. Sendo assim, o professor não faz uso de um
instrumento real para saber se seus alunos estão aprendendo, apenas
aquele único instrumento que é a prova.
Mas
os problemas não param por aí, as provas não avaliam corretamente
os alunos que tem déficit de atenção, hiperatividade e outras
síndromes que prejudicam a desenvoltura dos alunos em provas. Sem
dizer que mesmo os alunos que não possuem nenhuma síndrome também
estão sujeitos a não estarem em perfeito estado de concentração
para a prova. Alguns professores podem dizer que isso faz parte, mas
me desculpe professor, não faz parte não. Um aluno não deve ser
avaliado pela sua concentração em dias específicos do semestre.
Não é assim que iremos pesquisar no futuro e muito menos vocês
professores dão aula sem nenhuma anotação (apenas raríssimos
professores dão aula de cabeça sem consultar nada).
Ou
seja, um professor quer avaliar e descontar por sua falta de atenção,
por você ter respondido como ele queria a resposta e não como você
compreendeu de fato, por você conseguir ter se tornado uma máquina
de resolver problemas. Bom e agora, isso tem solução? Essa solução
é viável?
Como
esse problema é muito complexo e não depende apenas dos
professores, mas também de toda nossa estrutura educacional que
sufoca a criatividade dos alunos, essas mudanças serão muito
lentas. Algo que deveria ser revisto, é a forma que as provas são
estruturadas, e não ser somente elas que constituam com maior peso a
avaliação dos professores sobre os alunos. As avaliações deveriam
ser feitas de uma forma a instigar o aluno a refletir sobre aquele
problema, assim como isso deveria acontecer nas aulas. Não deveriam
avaliar se um aluno sabe fazer 10, 25, 50, 100 ou 1.000 exercícios,
mas se ele conseguiu entender o mecanismo por trás desses problemas.
Também acho que tanto os alunos como os professores deveriam se
envolver mais com a história e os debates que ocorreram por trás
daquele conteúdo.
O
professor também não deveria avaliar se o aluno sabe ser um bom
piloto de avião que sabe lidar com uma grande pressão em pouco
tempo, como é uma prova. Porque no futuro aquele aluno que se
tornará um professor/pesquisador não lidará com situações como
essas, na verdade ele terá certo tempo para conseguir pesquisar e
montar suas aulas. Além de ter todo o apoio de um material
disponível para tirar suas dúvidas.
Então,
realmente professores o que vocês tentam avaliar nos alunos de
graduação com provas que não estimulam o aluno a pensar, com uma
situação que ele não passará na sua vida de pesquisador?
Deixo
como indicação alguns textos de tratam muito melhor que eu desse
assunto e dão métodos alternativos, até mesmo já testados aqui no
Brasil e que tem uma excelente eficácia para desenvolver o
pensamento crítico e a compreensão conceitual dos alunos:
- Entrevista com Eric Mazur
- A Aplicação de uma Nova Metodologia de Ensino de Física: O Aprendizado Colaborativo
- A Aplicação de uma Nova Metodologia de Ensino de Física: O Aprendizado Colaborativo
Gostaria de agradecer ao Adriano Ortiz que me deu grande apoio para escrever esse texto, sendo o co-autor desse texto.
domingo, 28 de julho de 2013
Posted by
Rubia Guimarães