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Posted by :
Rubia Guimarães
domingo, 28 de julho de 2013
Os
últimos textos postados abordaram
situações que fazem parte do nosso cotidiano. E então,
aproveitando essa linha, e como sinto falta de um texto a respeito
desse assunto, resolvi escrever para mostrar um pouco da realidade
dos graduandos, para quem pretende entrar na universidade e também
para levantar questões que acredito pertinentes.
Claro
que não conseguirei escrever a respeito de todos os problemas que
enfrentamos, mas futuramente posso tentar escrever mais acerca de
como é estar na graduação, como está o preparo de quem entra na
graduação e como os formandos, em média, saem da graduação. Acho
que esses pontos são muito importantes, pois esses graduandos e
recém formados poderão ser nossos pesquisadores e professores.
Então,
vamos ao que interessa.
Algo
que percebi desde que entrei na graduação é que apesar dos
professores afirmarem que nota não é importante, no fundo isso é
cobrado de nós todos os dias, tanto pela postura de muitos
professores quanto do que é avaliado para conseguirmos um orientador
e uma bolsa de iniciação científica.
Mas
a pergunta que fica é: qual o problema de nos focarmos nas notas?
Bem,
eu vejo de uma maneira simples. Em grande parte das vezes a nota não
avalia corretamente um aluno, mas o problema vai além. Quando o
aluno foca em tirar notas e não em aprender, temos um problema
grave. Porque assim o aluno está se preparando para responder o que
o professor quer ler (ou ouvir em alguns casos), ao invés de estar
refletindo e construindo seu conhecimento de forma significativa , ou
seja, o aluno se tornou uma maquininha de resolver "problemas"
padrões e não alguém que um dia poderá ser um pesquisador ou
professor que se deparará com diversos problemas diferentes não
vistos em sua graduação e será capaz de trata-los de forma
crítica.
Então
é possível perceber que não se está oferecendo a esses alunos a
oportunidade da reflexão e da crítica, mas sim uma receita de bolo
ensinada pelos livros e professores,o que pode acarretar que diversas
pessoas não desenvolvem
criatividade e reflexões críticas, fazendo com que o processo de
formação de pesquisadores se torne muito mais longo. Além de esses
alunos poderem não ter aprendido significativamente o conteúdo, de
forma que o mesmo poderá ser esquecido no futuro.
A
iniciação científica foi uma forma para tentar reduzir esse
problema, visando ensinar ao aluno que o processo de aprender, apesar
de desenvolvido coletivamente, é individual, e deve ser buscado por
conta própria. Mas mesmo assim o aluno se forma mal preparado e não
desenvolve uma mentalidade de pesquisador, pois se acostumou com um
método tradicional e individualista. A bem da verdade, muitos
graduandos (principalmente bacharéis) saem sem saber o básico a
respeito de métodos científicos e sua validade, da diferenciação
de fontes confiáveis e inseguras, da compreensão e importância de
debates acerca do que é ciência e qual seu impacto social,
político, cultural, entre outros.
Mas
alguém pode perguntar, ao estudar para uma prova você já não
estaria aprendendo? Essa é uma questão relativa. No curso de
Física, apesar de termos poucos assuntos durante um semestre, esses
assuntos são mais aprofundados, o que faz que tenhamos muitas provas
e assim menos tempo para nos dedicarmos para aprender, e a forma como
são abordados faz com que seja mais fácil e vantajoso estudar para
uma prova pelas listas que os professores fornecem e anotações das
aulas do que tentar aprender e demonstrar como surgiram aqueles
conceitos físicos e matemáticos.
Isso
que nem estou levando em conta que deveríamos também compreender
relações histórica e filosófica por trás daqueles conceitos,
porque além delas nos ajudarem a fixar e entender melhor como e por
quem a ciência é construída, nós iremos dar aulas. Ou você achou
que mesmo sendo bacharel não ia ter que dar aulas? Aqui no Brasil
existem poucas áreas na ciência que você não terá que ir para a
área acadêmica, ou seja, você cursou bacharel, não foi preparado
para ensinar, não foi preparado para pensar sozinho para resolver
problemas mais complexos, não conhece as discussões que rodeiam a
ciência e vai se tornar um professor.
Esse
é um dos motivos de por que na graduação termos muitos professores
que não fazem ideia de como ensinar e nem do que estão fazendo em
sala de aula. Sendo que esses professores só conhecem, ou acreditam
no método tradicional de ensino, e estão acostumados com provas que
não são reflexivas e não tentam investigar se a aprendizagem de um
aluno foi significativa. Sendo assim, o professor não faz uso de um
instrumento real para saber se seus alunos estão aprendendo, apenas
aquele único instrumento que é a prova.
Mas
os problemas não param por aí, as provas não avaliam corretamente
os alunos que tem déficit de atenção, hiperatividade e outras
síndromes que prejudicam a desenvoltura dos alunos em provas. Sem
dizer que mesmo os alunos que não possuem nenhuma síndrome também
estão sujeitos a não estarem em perfeito estado de concentração
para a prova. Alguns professores podem dizer que isso faz parte, mas
me desculpe professor, não faz parte não. Um aluno não deve ser
avaliado pela sua concentração em dias específicos do semestre.
Não é assim que iremos pesquisar no futuro e muito menos vocês
professores dão aula sem nenhuma anotação (apenas raríssimos
professores dão aula de cabeça sem consultar nada).
Ou
seja, um professor quer avaliar e descontar por sua falta de atenção,
por você ter respondido como ele queria a resposta e não como você
compreendeu de fato, por você conseguir ter se tornado uma máquina
de resolver problemas. Bom e agora, isso tem solução? Essa solução
é viável?
Como
esse problema é muito complexo e não depende apenas dos
professores, mas também de toda nossa estrutura educacional que
sufoca a criatividade dos alunos, essas mudanças serão muito
lentas. Algo que deveria ser revisto, é a forma que as provas são
estruturadas, e não ser somente elas que constituam com maior peso a
avaliação dos professores sobre os alunos. As avaliações deveriam
ser feitas de uma forma a instigar o aluno a refletir sobre aquele
problema, assim como isso deveria acontecer nas aulas. Não deveriam
avaliar se um aluno sabe fazer 10, 25, 50, 100 ou 1.000 exercícios,
mas se ele conseguiu entender o mecanismo por trás desses problemas.
Também acho que tanto os alunos como os professores deveriam se
envolver mais com a história e os debates que ocorreram por trás
daquele conteúdo.
O
professor também não deveria avaliar se o aluno sabe ser um bom
piloto de avião que sabe lidar com uma grande pressão em pouco
tempo, como é uma prova. Porque no futuro aquele aluno que se
tornará um professor/pesquisador não lidará com situações como
essas, na verdade ele terá certo tempo para conseguir pesquisar e
montar suas aulas. Além de ter todo o apoio de um material
disponível para tirar suas dúvidas.
Então,
realmente professores o que vocês tentam avaliar nos alunos de
graduação com provas que não estimulam o aluno a pensar, com uma
situação que ele não passará na sua vida de pesquisador?
Deixo
como indicação alguns textos de tratam muito melhor que eu desse
assunto e dão métodos alternativos, até mesmo já testados aqui no
Brasil e que tem uma excelente eficácia para desenvolver o
pensamento crítico e a compreensão conceitual dos alunos:
- Entrevista com Eric Mazur
- A Aplicação de uma Nova Metodologia de Ensino de Física: O Aprendizado Colaborativo
- A Aplicação de uma Nova Metodologia de Ensino de Física: O Aprendizado Colaborativo
Gostaria de agradecer ao Adriano Ortiz que me deu grande apoio para escrever esse texto, sendo o co-autor desse texto.
Esse é um problema que já venho pensando a algum tempo sobre. Sempre me questionei sobre esse modelo de avaliação, principalmente quando colegas chegavam até mim dizendo: "Vamos resolver aquele tal problema, possivelmente estará na prova!".Ou seja, a prova é uma atividade mecanicista e se dá bem aquele que manja de decoreba. Ainda bem que existem professores que pensam diferente essa questão, poucos mais existem.
ResponderExcluirCara, é bem assim mesmo..Fico feliz que não sou o único que pensa e discorda a respeito de vários métodos utilizados por muitos professores das Universidades (principalmente as públicas).
ResponderExcluirBl4d3, muitos pensam assim, mas é difícil conversar isso com um professor ou mesmo propor algo diferente porque muitos já se acostumaram ou tem medo de mudar e dar errado. Então, só resta a nós mesmos tentarmos fazer a mudança e não deixar esse ciclo se perpetuar.
ExcluirParabéns pelo texto, ele aborda muito bem nossa realidade de 'estudante de Física'. Em virtude de termos atividades em excesso, tanto referentes às cadeiras em si, quanto a própria iniciação científica acabamos decorando métodos práticos quaisquer que nos façam tirar notas boas nas provas, para que no futuro não tenhamos problemas pela falta de uma cadeira completa/com aprovação.
ResponderExcluirFalando agora em problemas como falta de atenção, as avaliação e os próprios professores não nos dão o tempo para refletir sobre o que estamos colocando no papel, muito menos para tentar se acalmar caso "bata um desespero".
Além disso, essa corrida contra o tempo para dar um jeito de aprender tudo o que é proposto em um semestre nos faz desenvolver problemas de saúde, como distúrbios gástricos e emocionais ligados as poucas horas de sono, pressão psicológica, ao "comerei se der tempo", "vou tomar mais um café para ficar acordado", etc.
Anônimo, obrigada. Entendo muito bem, eu desenvolvi tendinite na minha mão por escrever muito para as provas, além de ficar com meu emocional muito debilitado em várias situações devido a pressão. O que me chateia é que não importa se você aprendeu ou se você apenas "decorou" o método para a prova, o que importa na visão de muitos professores é passar. :(
ExcluirSou aluno de ciências biológicas, e consegui reconhecer a realidade por trás da graduação. Infelizmente a realidade de nós, graduandos na área científica é essa.
ResponderExcluirMeus parabéns pelo excelente texto.
Bela reflexão!
ResponderExcluirPior é saber que essa é também a realidade de escolas do Ensino Médio(como o Objetivo e o ETAPA, por exemplo) que querem números, só pensam neles, já que é a melhor propaganda que eles podem ter e no final acabam com muitos alunos bons entrando em depressão e tomando vários remédios por causa de toda a pressão em passar e ter notas boas, mesmo que eles só queiram enfiar vários modelos de como resolver exercícios e não o desenvolvimento de calma e raciocínio para durante a prova do vestibular. O problema não é só na graduação em universidades, é um problema que vem desde cedo na vida escolar de muitos.
ResponderExcluirMuito bom o seu texto, mas pena que seja difícil que quem deveria lê-lo, leia ou ao menos escute esse tipo de opinião e repense na forma de avaliação. Do mais, parabéns.
Como Bacharel em Matemática presenciei uma realidade diferente,em parte. Quando aprendíamos um novo assunto em sala, eramos encorajados a pensar sobre o método,o caminho até o método(por mais obscura que pareça essa afirmação) e principalmente a validade e extensão do método,por exemplo, você poderia entender perfeitamente todos os passos,raciocínios e alusões na prova de um teorema e mesmo assim o foco seria em saber utilizar não somente o teorema em si,mas notar em que situações as hipóteses não valiam,em que aspectos ou "ambientes" aquilo poderia ser estendido, além disso perguntas como "que condições fulano tinha na época que o fez abordar assim e não de outro jeito", eram recorrentes e discutidas. Belo artigo
ResponderExcluirOlá a todos! Novamente um ótimo texto.
ResponderExcluirComo aluno de licenciatura eu observo o efeito "contrário" também. Não sei se conseguirei expressar claramente, mas tentarei:
Vejo muitos professores do departamento de educação condenando o ensino tradicional sem uma prévia reflexão e compreensão do mesmo. O que eu observo neste tipo de aula é um ensino tradicional e mecanizado (que é justamente o que é condenado) e vejo também alunos absorvendo e repetindo conceitos (com as palavras dos próprios professores) de forma unilateral.
Ou seja em disciplinas em que teriamos de tudo para refletir e compreender conceitos epistemológicos, acabamos por decorar e repetir (assim como nas disciplinas mais "pesadas"), mas o mais grave é que estamos diante de um contexto que diz que NÃO PODEMOS FAZER ISSO.
Ainda estou engatinhando no mundo acadêmico, mas essa preocupação me aflige, pois dali sairá um geração inteira de professores (os que realmente forem a campo) que eu não sei se estão realmente compreendendo o que é educação e alfabetização científica.
O assunto me interessa tanto que penso em fazer pesquisas nessa área. Já vi que foram deixadas várias referências, mas gostaria de pedir um pouco de ajuda sobre o "como pesquisar" (diferenciar fontes confiáveis, normas e regras que devem ser seguidas,etc.), pois não tenho dedicação exclusiva a faculdade (pois trabalho) e não pude fazer uma iniciação onde eu teria um bom respaldo, mas quero iniciar minhas próprias pesquisas sobre o tema,vocês tem alguma dica de por onde posso começar? (creio que os artigos indicados aqui já serão um ótimo passo inicial)
No mais, eu parabenizo a todos da equipe e continuem com o ótimo trabalho.
Abraços!
Interessante seu ponto de vista como aluno... A "decoreba" de exercícios é algo que se torna até institucional, mas devemos convergir que a tarefa de avaliação não é trivial.
ResponderExcluirMas discordo em muitos pontos como professor, pesquisador e ex-aluno, pois na vida real profissional existe pressão e prazos... não se pode esperar, não se pode errar uma divisão/multiplicação, não importa se "comecei certo, mas depois me enganei"... A maturidade nos leva a perceber como o sistema é perverso e, hoje, posso perceber que somos treinados a resolver problemas e isto é muito bom! Compreender a resolução é melhor ainda (e deveria ser o objetivo)!! Mas esperar que reinventemos a roda, ou encontremos outra maneira de resolver todos os problemas já estabelecidos, pode não ser a melhor maneira de prosseguir. A grande questão é: as formas alternativas dão resultado prático? Aprende-se através de "trabalhinhos extras", "visto no caderno (!!)", presença (!!)? Minha observação com base em 10 anos de docência no ensino médio é: NÃO... Apenas deixamos as pessoas felizes, questionadoras, até meio "papudas" e coisa e tal, mas o que interessa, compreender e resolver problemas práticos, isso não ocorre. Não mesmo....
Há muito se discute a melhor forma de avaliação e o governo do estado de SP encontrou uma ótima solução ainda em 1997: não se reprova! Ou seja, a educação é um serviço que você tem acesso, passa seus onze anos (médio e fundamental) e boa...ninguém reclama, as escolas particulares fazem algo muito similar, os alunos não sabem nem realizar cálculos simples nem sequer com calculadora... Aí entram na universidade... então os estudantes de ciências exatas percebem na primeira prova de Cálculo I (não é de hoje!!) que sim, é preciso resolver problemas!! Por pior que seja, outras formas já foram tentadas, mas no frigir dos ovos, o resultado prático é pior! Imagine um engenheiro errando grosseiramente o projeto de um edifício...não pode ser aceitável, não é mesmo?
Mas, de forma sincera, acredito em seus questionamentos. Faz parte da evolução e maturidade e ajudam na reflexão sobre o melhor método de avaliação. Mas, como em ressaca de fim de semestre, com aquele índice alto de reprovados típicos de universidade federal (onde não somos obrigados a aprovas quem nada sabe) e de maneira nenhuma estou me dirigindo a sua pessoa, apenas lastimo que os únicos alunos que vêem a minha sala discutir avaliação e seus métodos são os que não atingiram a média de aprovação... estes são os maiores especialistas, questionadores e sequer cursam alguma licenciatura. Fazem-me pensar que toda discussão gira em torno do único problema que para eles realmente importa: ser aprovado!
Parabéns a vocês pelo blog e iniciativa!
Olá Professor Anonimo, obrigado pelo comentário.
ExcluirBom, eu não sou mais estudante de graduação e tenho uma boa experiência com ensino. Apesar de eu não ter escrito o texto eu concordo com ele e discordo um pouco da sua visão em alguns pontos cruciais.
Primeiramente, sim em uma pesquisa há muita correria e prazos curtos, eu mesmo estou com prazos quase vencidos já. Mas existe um diferença que acho impar, a pressão de uma pesquisa é totalmente diferente de uma prova, eu tenho um grupo com quem trabalho, eu tenho a chance de rever minhas anotações, confirmar meus resultados, obter opiniões sobre o que eu fiz, em momento algum eu fiquei em uma sala com uma faca no pescoço 5 questões para resolver e um professor dizendo que faltam tantos minutos para acabar a prova. A pressão de pesquisar é grande, mas totalmente diferente! Não sei onde o senhor pesquisou, mas essa coisa frenética de publicações é algo que nós mesmo impusemos, se eu quiser publicar um paper mais detalhado, longo e demorado eu posso. Obviamente que saber resolver problemas é fundamental, mas não deveria ser o essencial, existem muitos problemas que eu aprendi a resolver, mas demorei uma eternidade para aprender a pensar sobre eles e isso foi mais perda de tempo do ganho para mim. Mas gostei bastante de ver que os professores que tive na licenciatura (trabalho com pesquisa em TQC, mas também sou licenciado) tinham uma visão de que realmente a forma que o ensino tradicional é feito é nociva em muitos fatores.
Um outro ponto que vejo aqui é que não se trata da reinvenção da roda, mas sim da introdução do pensamento do "porque uma roda". É uma abordagem totalmente diferente e que pode ser feita. Quando eu dava aulas no Ensino Médio tentei fazer introdução de vários elementos construtivistas em termodinâmica que deram certo, mas me deixou desacreditado em outros pontos, como a utilização de mídias. Em relação ao ensino superior, existe um momento que não há como fugir do ensino tradicional, que se remete principalmente as físicas mais avançadas. Mas na parte de física geral existe um método muito interessante e que surtiu um ótimo efeito, basta ver as fontes indicadas no texto.
Em relação ao seu último comentário, é uma pena que apenas os maus alunos tenham essa fama de criticar a forma de ensino. Isso mostra que a nossa capacidade de reflexão só acontece quando dói na gente. A autora desse post, tem notas invejáveis, mas talvez pelo contato que ela já teve com alguns assuntos da parte educacional, ela critica bastante o método e a forma com que ela própria aprende.
Em relação a aprovação automática do estado de SP prefiro nem comentar... é vergonhoso.
Olá Anônimo, agradeço pela critica e o contraponto.
ExcluirEnsinar e avaliar não são tarefas fáceis, mas também temos que concordar que esse é o preço a ser pago para ser um professor. Buscar métodos que tenham eficácia no ensino e aprendizagem do aluno é uma das tarefas dessa maravilhosa profissão. Devemos nos atentar que com o passar do tempo o método tradicional tem se mostrado deficiente em fazer o aluno pensar, por isso surgiram novas técnicas, como a indicada no texto, para melhorar a forma de ensino. Não são formas complexas e nem eliminam a avaliação formal que é a prova. Mas dão outras alternativas para que professores guiem os alunos a aprenderem por si próprios em sala de aula e em tarefas, as quais compõem uma avaliação mais completa que o professor pode fazer sobre seus alunos e verificar se de fato eles estão compreendendo o conteúdo.
No ponto relacionado a pressão é um tanto estranho comparar a pressão de uma prova que demora em média duas horas em um dia específico do mês, com a pressão de publicações que para sua produção levam meses, com acesso a materiais, colegas e até orientadores (no caso de alunos da pós). Já nos casos de engenheiros, para eles desenvolverem um projeto não levam apenas duas horas, mas semanas, meses e alguns até anos nos casos mais complexos. Sendo que os projetos em muitas vezes são feitos em equipe, tendo sempre a possibilidade de refazerem seus cálculos ou revisarem. Então achar levianamente que engenheiros e pesquisadores sofrem o mesmo tipo de pressão de um aluno numa sala de aula é um tanto incoerente. Achar que avaliar numa prova erros que até mesmo professores, sem sofrer a mesma pressão, cometem em sala de aula, irá fazer com que aquele aluno seja um profissional melhor não faz sentido.
Além de que alunos que sofrem déficit de atenção, hiperatividade e outras síndromes são extremamente prejudicados. Mas não somente eles comentem erros por falta de atenção, estudantes sem síndromes e que estão sob fortes pressões erram com mais facilidade, quando isso é levado em conta? Imagino que possa estar se perguntando, mas como avaliar um aluno se ele realmente sabe matemática básica? Atividades dentro e fora de sala de aula podem avaliar isso muito bem.
Passando para outro ponto, esse que acho mais crítico porque vejo aparecendo com insistência, a argumentação dizendo que a mudança do sistema tradicional de ensino seria fazer com que o aluno tentasse “recriar a roda” ao invés de estudar a aplicabilidade da roda. Vejo isso de duas formas, uma pode demonstrar o comodismo de muitos professores ou resistência de mudar o sistema que já estava acostumado, a outra mostra como muitos professores desconhecem métodos alternativos que são eficazes e aplicáveis em sala de aula. Não é querer acabar com a resolução dos exercícios, mas a forma como isso é ensinado. Como falei no texto, deveria ser ensinado e avaliado se o aluno aprendeu o mecanismo por trás daqueles problemas e não se ele sabe resolver sem compreender os significados dos problemas, tanto fisicamente quanto matematicamente.
No caso do ensino médio, ao meu ver é um pouco mais complexo. Tanto que não abordei isso no texto, ele é voltado para a graduação. No ensino médio os alunos estão estudando muitas coisas que eles não gostam e são obrigados, não tem maturidade para discernir certas situações. Já na graduação os alunos, em grande parte, estão lá porque querem e gostam do que pretendem seguir como carreira. Os conceitos visto nas graduações são mais aprofundados e complexos do que no ensino médio. É muito importante que o futuro profissional compreenda muito bem os conceitos principais dos conteúdos abordados na graduação porque eles são acumulativos para a execução de sua profissão. Então o que interessa não é resolver
problemas, nisso já se formam muitos alunos e profissionais ruins que não são reflexivos. O que interessa realmente é aprender e compreender o que foi aprendido.
ExcluirPor exemplo, um aluno que se prepara por uma semana (!) e se sai bem numa prova, um ano depois sem ter utilizado aquele conteúdo não lembrará mais nada. Ele estudou por uma semana apenas para tirar boa nota, não refletiu sobre o assunto, não compreendeu os conceitos por trás daquele conteúdo, consequentemente não apreendeu. Apenas decorou o assunto para ser aprovado naquela prova, isso faz com que tenhamos alunos se formando sem terem aprendido para executar suas profissões.
Sobre o que o governo do estado de SP fez não preciso nem demonstrar ou comentar minha aversão, isso vai contra tudo o que estou falando e foi feito para não precisar melhorar o ensino, para continuar com o mesmo sistema de ensino, só que sem ter a evasão. Isso funciona para formar bons profissionais? Obviamente não. Sobre ninguém reclamar discordo, tem sim muitas discussões sobre isso, mas epistemólogos, educadores e pedagogos não tem força financeira e política para mudar o sistema vigente. É fácil perceber que medidas assim visam apenas uma redução nos custos, além de melhorarem os índices de evasão, ou seja, maquiagem de dados. Mas isso não é novidade para mim, no Paraná existe uma maquiagem de dados muito criativa, as cidades criam as “escolas modelos”, as quais são públicas com um ensino bem mais forte e com uma estrutura muito melhor comparada com outras escolas públicas, daí as provas de avaliação da educação no Paraná são feitas justamente nessas escolas e mais algumas outras, desta forma se investe em apenas algumas escolas e não em toda rede pública de ensino no Paraná e ainda tem índices muito bons. Medida criativa não?
Como disse antes, não quero abordar o ensino médio até porque não quero fazer o caminho mais fácil e culpar a educação de base, ao contrário, quero que professores universitários e alunos de graduação repensem a forma como é feito o ensino. Assim, não jogamos a batata quente para outra pessoa, nos responsabilizamos e tentamos mudar o que ocorre. Como vamos mudar o ensino de base se muitos professores ruins ou despreparados são formados todos os anos e vão justamente para o ensino de base?
Não se preocupe em achar que sua crítica a aulos que reprovam ou pegam exame serem os mais questionadores me ofenderia. Pelo contrário, concordo com isso e lamento, como estou em contato direto com a pós graduação da universidade que estudo e muitos alunos de pós são professores vejo com meus olhos isso ocorrer, vejo também como os alunos são criativos em suas desculpas.
Mas a minha crítica não é sobre reprovações, na verdade acho que se um aluno não aprendeu não deva passar. Só que infelizmente não vejo os professores avaliando se os alunos aprenderam, vejo apenas avaliando se os alunos conseguiram decorar para resolver provas não reflexivas.
Eu questiono os métodos por já ter um contato com o assunto e achar pertinente, por ver vários alunos com grande potencial e que não conseguem decorar serem prejudicados por esse sistema, por ver diversas pessoas com coeficientes de rendimento altos, mas que não sabem conceitos básicos que deveriam saber desde o primeiro ou segundo ano.
Mais uma vez agradeço pela crítica e também pela participação.
Ótimo texto, Rúbia! Penso exatamente da mesma forma. E eu achava que esse problema ocorria apenas nas engenharias.
ResponderExcluirSensacional esse texto! Parabéns Rubia!
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